COMO A ARTE COMUNICA SEM PALAVRAS
A superlativa companhia de dança moderna calha ser norte-americana e, por discriminação positiva, apenas composta por afro-descendentes – a Alvin Ailey American Dance Theater. Criada em 1958 pelo texano que dá nome à companhia, concebe a dança como uma expressão ao alcance de qualquer ser humano, como costumava dizer: "Dance is for everybody. I believe that the dance came from the people and that it should always be delivered back to the people».
Alvin Ailey, fundador da companhia de dança com o seu nome, em 1958, em Nova Iorque. |
Quem já assistiu a actuações dos Alvin Ailey, ao vivo, confirma-lhes a excelência, equiparável ao melhor ballet clássico, distinguindo-se apenas pelo gosto de cada um, quando calha haver gostos muito segmentados. Na sua história já longa, a Companhia junta, frequentemente, os belíssimos espirituais negros com um sublime ballet de vanguarda, numa fusão de expressões artísticas de uma beleza comovente:
Tudo no palco transborda harmonia e uma eloquência narrativa, apenas sustentada em gestos loquazes, certeiros, maravilhosamente orquestrados entre os dançarinos, que formam centopeias dançantes, quando actuam em uníssono. Os sons impregnam a tal ponto os movimentos e as poses coreográficas, que a música também irromperá daqueles corpos ágeis e comunicativos. A suprema naturalidade dos seus gestos eleva a plasticidade humana a um patamar notável, embora flua com tal facilidade, que chega a parecer óbvio e universal… Pura ilusão essa aparente simplicidade, que implica um trabalho hercúleo em contínuo.
Os cenários estilizados e decorativos, a par da alegria do guarda-roupa, imprimem um ritmo colorido e festivo às coreografias, adensando a mensagem central desenhada por proezas corporais harmoniosas, que pertencem ao argumento, sem exibicionismos laterais. A fusão entre os movimentos dançantes e a música atinge tal depuração artística, que suplanta a mera exibição atlética, por assombrosa que seja, e também é.
Do lado de cá do Atlântico, várias galerias de exposição em Londres resolveram dar vida a telas famosas, através de um método cinematográfico que envolve o público na experiência pictórica imortalizada pelos pintores. Na chamada “frameless art experience” recorre-se à nova arte imersiva, em que várias expressões artísticas têm dado os primeiros passos, da música ao teatro, passando pela pintura, que assim simula a terceira dimensão. Numa tela de Rembrandt, mergulhamos no mar tempestuoso do episódio bíblico onde a barcaça dos apóstolos é açoitada por ondas aterradoras, no mar da Galileia, até que assoma no horizonte a figura de Cristo, imune à intempérie e salvador dos apavorados discípulos, pois só à palavra do Senhor da criação as águas amainaram definitivamente:
Neste itinerário imersivo, Monet, Caravaggio, Dalí, Klimt transbordam das molduras para preencher todo o espaço, envolvendo o público em 360º:
https://www.youtube.com/shorts/Kqq7GaPKb0g
Se em Londres o truque provém dos avanços tecnológicos, em Nova Iorque, o mérito está no trabalho árduo, empenhado de cada participante. Ao estilo pragmático dos americanos, também foi criada uma unidade para o cidadão comum – a The Ailey Extension, onde se prometem «Real Classes for Real People». O slogan soa anedótico, mas é evidente o nível de elite da companhia profissional, que quase desconhece a força da gravidade… As imagens explicam por que há lugar para todos, enquadrando-se cada um no contexto que melhor lhe quadra:
De um lado, voa-se e… |
… no outro, aproveitam-se as aulas de fitness |
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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