Quem me vai acompanhando pelo blogue ou pelas conversas não lerá neste post nada de novo, porque não escreverei nada de novo. O que me impele então à repetição? A necessidade de manter o foco numa área importante da minha vida - a oncologia pediátrica ou, numa expressão mais impactante, o cancro nas crianças.
Estive 3ª e 4ª feiras em Joanesburgo, numa reunião e num encontro de associações de pais / sobreviventes doentes de África. Encontrei-me com pessoas do Zimbabwe, África do Sul, Gana, Zâmbia, Malawi, Ilhas Maurícias, Egipto, etc. Falamos de países onde a taxa de sobrevivência pode ser 30%, a taxa de abandono altíssima, onde os recursos humanos, financeiros e técnicos são escassos. No decurso deste encontro deslocámo-nos a duas Casas da CHOC, a associação sul-africana (uma delas no famoso bairro do Soweto). O modelo das Casas é igual às da Acreditar - receber crianças / jovens doentes e as suas famílias durante o tempo que for preciso. Ali encontrei uma família moçambicana, cuja criança abriu os olhos de espanto quando perguntei: quem fala português aqui?
Gosto da comunidade africana, com quem já me encontrei algumas vezes: são amáveis, simpáticos, bem-dispostos, risonhos, cheios de esperança. Falam alto, abraçam, apertam a mão demoradamente e riem-se das piadas alheias. Esta é a vertente divertida dos encontros. A vertente importante é perceber as necessidades, o que ainda falta por fazer. Enquanto a Europa fala de melhor sobrevivência, em África (e noutras regiões) ainda se fala de sobrevivência. É nestes encontros, no cruzamento com mães e crianças doentes, que eu me lembro do que aqui me trouxe, do que me mantém aqui. No fundo, é aqui que me lembro, de forma muito comovida, o que dá sentido à minha vida.
No congresso de Ottawa disse o que já (me) é um lugar-comum: os anos de membro e presidente do CCI foram os anos humanamente mais enriquecedores da minha vida. Nunca terei nada que me tenha oferecido uma visão tão clara das desigualdades por que passa o mundo. Nunca mais farei amigos que, embora de países e culturas diferentes, falam a mesma língua que eu: uma linguagem feita de uma uma história pessoal desafiante mas uma linguagem feita, também, de esperança.
Apesar de tudo a vida foi generosa, ao dar-me tudo isto.
Adeus até ao meu regresso.
JdB
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