As melhores viagens são, por vezes, aquelas em que partimos ontem e regressamos muitos anos antes
01 janeiro 2025
Vai um gin do Peter’s ?
ONDE CONCORDAM LEONARDO DA VINCI, HOPKINS E OS SCORPIONS?
Sabem tão bem as boas companhias, ao longo da vida! E são tantas, numa exuberância de formas deliciosamente imprevistas. Até de gente distante, no tempo e no espaço, nos chegam palavras de ânimo e de esperança espontâneas, por pura gratuitidade. Com um pouco de atenção, descobrimos incontáveis gestos humanos que ajudam a iluminar o nosso dia-a-dia, inclusive onde menos se esperam e de épocas recuadas, como de geografias longínquas!
Para o começo do Novo Ano – do novo tempo inteiro e límpido que se reergue no horizonte da nossa vida – o primeiro dia é dedicado à Paz. A Cristandade juntou-lhe a festa de Santa Maria Mãe de Deus, medianeira e guardiã-mor da Paz. Há bons anos, os Scorpions surpreenderam os milhares de fãs reunidos na Cidade do México, para um concerto memorável, dedicando ao público entusiasmado a composição do brasileiro Herivelto Martins: «Avé Maria no Morro». É uma coincidência curiosa ser interpretada por um grupo de heavy metal alemão a música composta em plena Segunda Guerra Mundial – 1942 –, quando as tropas de Hitler semeavam o terror pelo mundo. A voz cristalina de Klaus Meine, imortalizada em “Winds of Change” e “Still loving you” entre outras, com um domínio extraordinário dos agudos, soa incrivelmente doce nesta ária transposta para a língua falada no país onde actuou a banda de Hannover:
Letra em espanhol
«AVE MARIA DEL MONTE …
«Ave Maria del monte preciosita, chiquitita
Es el morro de los negros la mansion
Extraño mundo tan desgraciada y tan sencilla
Ni siquiera una capilla te aprovecha para rezar
Pero si vive en Tierra y Cielo y (cambiara)
Y la noche con su manto cubre las losas que van a amar
Alla se escucha, al fin del dia una plegaria
Ave Maria
Alla se escucha, al fin del dia una plegaria
Ave Maria
Ave Maria
Aunque no tenga capilla, reza la gente sencilla
Ave Maria»
De Herivelto Martins (1912-1992)
Outra voz penetrante, como a de Anthony Hopkins, oferece-nos uma súmula interpelativa sobre o alcance histórico do Bebé, nascido há dias, em Belém, que se oferece à humanidade como fonte de Paz. O premiadíssimo actor de Hollywood desfia num minuto e meio os múltiplos paradoxos que, pelos critérios humanos, tornam única e misteriosa a figura que mais revolucionou a História, mesmo se considerássemos apenas a dimensão humana de Cristo, sem atender à sua natureza divina. Por que terá sido temido por governantes um rei sem exércitos, e chamado de Mestre, seguido por multidões, embora não fosse reconhecido na hierarquia judaica e menos ainda na romana? Por que foi violentamente invejado pelas elites do seu povo, apesar de não possuir riquezas exteriores e levar uma vida errante, sumamente desconfortável, cuja maioria dos discípulos era pobre e insignificante? E por que continua, hoje, a ser invocado e seguido um proscrito do Império Romano, condenado à mais humilhante e dolorosa das mortes?...
Coube ao genial pintor da Mona Lisa uma reflexão imperdível e auspiciosa para inaugurar o Novo Ano: «As mais sublimes palavras de amor, são ditas no silêncio de um olhar.» Quem melhor do que um pintor da craveira de Leonardo da Vinci (1452-1519) para falar da força ímpar do silêncio, quando é habitado por uma presença de Amor? Na mesma senda, C.S.Lewis lembrou que a existência humana se eleva e completa, quando ecoa uma grandeza infinita gravada no seu coração: «Não sou eu. Sou só um sinal. Olha! Olha! Quem te lembro?» Na gruta de Belém, os pastores e os Magos encontraram a resposta… igualmente ao nosso alcance. FELIZ 2025!
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
Sem comentários:
Enviar um comentário