24 fevereiro 2025

Da ideia de descobrir de novo

 

Porto, Fevereiro de 2025

Encontrei esta loja por puro acaso, ao descer uma rua do Porto em direcção à Ribeira. Olhei para o nome do estabelecimento comercial (uma loja com muito bonita no interior, com peças de arte muito interessantes e também com roupa) e encontrei-lhe uma estranheza imediata - Descobrir de novo.

Vamos assumir que se pode descobrir uma cidade. Eu descobri Praga quando lá estive em 1982, pela primeira vez. Descobri Praga quando lá estive pela segunda por volta de 2002 ou 2003 e descobri Praga uma terceira vez, em 2022. Poderão dizer-me, então que eu descobri Praga de novo, o que não é verdade. Eu descobri três Pragas em momentos diferentes, porque a cidade era diferente e os meus olhos eram diferentes. Nada se redescobre - ou se descobre de novo, porque uma descoberta é sempre uma primeira vez. Uma descoberta é um acto único. Não se descobre o caminho marítimo para a Índia uma segunda vez, não se descobre um minério uma segunda vez, não se descobre uma tribo indígena escondida numa floresta uma segunda vez. 

Entrei na loja e conversei com o proprietário, um homem simpático, educado e com sentido de humor, que ouviu com bonomia o meu desacordo quanto ao nome da loja. Mostrou-me peças interessantes (estas com design da mulher)...

... explicou-me que, quando compraram o espaço, havia portas com várias camadas de tinta, que form retiradas. Havíamos encontrado a razão para o nome da loja: a porta tinha sido coberta com várias camadas de tinta, os proprietários dedicaram-se a des-cobrir a porta das suas várias camadas. Des-cobriram um camada, des-cobriraram uma segunda camada, des-cobriram uma terceira camada. Descobrir é o encontro de algo novo que nasce da remoção de algo velho. 

JdB 

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