Muito se tem falado da Mouraria - e pelos piores motivos. Mas o bairro popular é mais do que uma questão de segurança ou de imigração desenfreada. É, também, mais do que o destino final de Maria Severa Onofriana. Foi fonte de inspiração para textos ou versos particularmente bonitos, como os que aqui coloco.
Gabriel de Oliveira assentou praça em 1909 na Marinha de Guerra, tendo concluído o curso de artilheiro. Suzanne Chantal (pseudónimo de Suzanne Yvonne Marie Beaujoin) foi jornalista e romancista, e nasceu em 1909. Não sei se se cruzaram ou não, mas podiam tê-lo feito e ter trocado dois dos mais interessantes textos que se escreveram sobre a Mouraria ou sobre a procissão da Senhora da Saúde.
Vale a pena ler os versos de Gabriel de Oliveira, a forma como a sextilha a itálico é depois glosada, o primor de algumas expressões, o trocadilho de uma rosa desfolhada que parece que tem virtude. E vale a pena ler o trecho de Suzanne Chantal - 5 linhas sem ponto para que se leia sem parar, porque o ritmo realça a beleza da frase.
JdB
Há festa na Mouraria
É dia da procissão
Da Senhora da Saúde
Até a Rosa Maria
Da rua do Capelão
Parece que tem virtude
Pétalas soltas no chão
Almas crentes, povo rude
Anda a fé pelas vielas
É dia da procissão
Da senhora da saúde
Profundo silêncio pesa
Por sobre o Largo da Guia
Passa a Virgem no andor
Tudo se ajoelha e reza
Até a Rosa Maria
Em fervorosa oração
É tal a sua atitude
Que a rosa já desfolhada
Da rua do Capelão
Parece que tem virtude
Sem comentários:
Enviar um comentário