26 fevereiro 2025

Vai um gin do Peter’s ?

 MÚSICA VITAMÍNICA DE ABRUNHOSA E DE LOREENA McK. 

Há dias, contou-me uma amiga que um casal, cujo marido está hospitalizado com um cancro feroz, ouve diariamente esta ária de Pedro Abrunhosa, consoladora para ambos neste período especialmente difícil. Mal saberá o compositor do impacto vitamínico da sua obra «Que o amor te salve nesta noite escura», indo além da beleza artística, qual fármaco poderoso: 

De Abrunhosa contou-me um amigo um encontro fortuito, divertido, num elevador público do Porto, creio que a caminho de um rooftop. Subia o meu amigo com a irmã, quando num andar intermédio entrou o cantor com os óculos escuros do costume. Num instante, a irmã do meu amigo sacou dos seus e toca de os pôr. Chegados ao destino, quando todos saíam do elevador, Abrunhosa virou-se para ela e disse-lhe: «Um óptimo dia, colega». Gargalhada geral e mini bate-papo com o artista.  

O ânimo que a composição do cantor portuense tem dado ao casal em fase dolorosa, lembrou-me uma reflexão certeira circulada a 20 de FEV. sobre a importância da companhia amiga nos momentos duros da vida. Um gesto simpático, até mesmo de desconhecidos, uma visita, a presença atenta e fiel dos mais próximos, uma música, um vídeo positivo, um livro inspirador, tudo ajuda como paliativo revigorante para ajudar a enfrentar a dor:   

«PARA  20.FEV.2025

Algo extraordinário acontece quando a criança se magoa e vem a chorar ter com a mãe. A mãe diz-lhe: "Vem cá, dou-te um beijinho e isso passa." E passa mesmo! Algumas terapias aproveitam esta realidade e bem. Não é fantasia. A dor só é mesmo uma dor má e destrutiva, uma dor sem saída, se vivida na solidão. Mas quando é partilhada cura-se pela ternura!»

Vasco P. Magalhães, sj
In «NÃO HÁ SOLUÇÕES, HÁ CAMINHOS:
365 vezes por ano não perguntes porquê, mas para quê.»

Também os não crentes têm dado sinais comoventes de preocupação com o estado de saúde do Papa. De tantos lados chovem mensagens de consideração e até de ternura por Francisco. Quem sabe o que mais contribuirá para a convalescença desafiante de um doente frágil, de 88 anos, diagnosticado com dupla pneumonia e apenas com um pulmão?  Claro que a fé de Francisco é sempre a grande rocha que sustenta a caminhada no escuro, mas não no vazio... Segundo escreveu o grande poeta e santo S. João da Cruz, a noite será a hora em que a grandeza infinita e o amor transbordante de Deus mais se conseguem revelar:  «Em noite tão ditosa, / E num segredo em que ninguém me via, / Nem eu olhava coisa alguma, / Sem outra luz nem guia / Além da que no coração me ardia. / Essa luz me guiava, / Com mais clareza que a do meio-dia (…) / Em lugar onde ninguém aparecia. / Oh! noite, que me guiaste, / Oh! noite, amável mais do que a alvorada / Oh! noite, que juntaste / Amado com amada, / Amada, já no amado transformada!». Misteriosos paradoxos, magistralmente cantados por Loreena McKnitt:


Amanhã, dia 27, às 19h, quem queira pedir pelas melhoras do Papa poderá juntar-se no Parque Eduardo VII, onde Francisco proclamou uma máxima que se tornou viral e também emblemática do seu pontificado: «Todos, todos, todos» (não confundível com tudo, tudo, tudo).  

Desde que é Papa, Francisco tem pediu incansavelmente “rezem por mim”.
Hoje, tão frágil e talvez a dias da Partida, faz especial sentido corresponder
ao seu pedido no local onde o Papa presidiu a grandes momentos das JMJ
(Agosto de 2023).

Nota do editor: fotografia de arquivo com o abraço fraterno do Papa a quem sofre.
Francisco sempre incansável com os desvalidos.
Um artigo publicado a 24 de Fevereiro, conta na primeira pessoa um encontro casual num supermercado, ilustrativo desta onda de solidariedade com o Papa argentino – fã de futebol e de tango –, que se estende para lá dos crentes. O líder bondoso, pródigo em gestos de ternura com os marginais e os pobres, suscita enorme simpatia e admiração:  

«DEUS, SE EXISTES, CUIDA DO PAPA FRANCISCO
 
Porto, 22/02/2025. Passei rapidamente num supermercado para comprar algo que me fazia falta. Na fila da caixa, uma senhora perguntou-me: “Como está o Papa Francisco?”. A questão apanhou-me desprevenido. Naquele momento, estava focado a pensar se me esquecera de algo que deveria comprar, pensava nas pessoas que iria encontrar em breve e numa chamada telefónica que deveria fazer a um amigo por ocasião do seu aniversário.

E, de repente, aquela senhora perguntou-me pelo Papa. E continuou: “Que posso fazer pelo Papa?”. Esta segunda pergunta era ainda mais comprometedora. O que se pode fazer pelo Papa numa fila de supermercado no Porto? Disse-lhe que o Papa é uma pessoa próxima e que podemos rezar por ele. Mas ela respondeu: “Eu não sou crente. Como posso rezar?”.

Aquela terceira pergunta deixou-me pensativo, enquanto a minha interlocutora colocava os produtos no tapete rolante da caixa. Por uns instantes, fui com a cabeça até Roma. Com uma intuição rápida, respondi: “Talvez possa rezar assim: ‘Deus, se existes, cuida do Papa Francisco’”.

Despedimo-nos amavelmente. E fiquei a pensar: como é possível que, no meio de um supermercado, uma pessoa não crente ajude um padre a rezar pelo Papa?

Temos acompanhado o estado de saúde do Papa Francisco, os boletins clínicos, as transmissões em direto. Recorremos ao Dr. Google e ao ChatGPT para perceber melhor o que significa uma infeção polimicrobiana ou uma plaquetopenia. O Papa Francisco é um doente muito especial: não conheço outro paciente que exponha assim as suas vulnerabilidades.

Aos 88 anos, outro doente pediria descanso e privacidade. O Papa não quer, não consegue. Do 10.º andar do Hospital Gemelli, telefonou para Gaza, procurando saber como está a comunidade católica naquele lugar. Daquele quarto saiu um lamento pelo terceiro aniversário da guerra na Ucrânia. E, ao mesmo tempo, sabe agradecer: “Nestes dias, recebi muitas mensagens de afeto e fiquei particularmente tocado com as cartas e os desenhos das crianças. Obrigado por essa proximidade e pelas orações de conforto que recebi do mundo inteiro! Confio todos à intercessão de Maria e peço que rezem por mim”.

Na sua recente autobiografia, Francisco revelou como gostaria de enfrentar os últimos momentos da vida:  “Quando eu morrer, não serei enterrado em S. Pedro, mas [na Basílica de] Santa Maria Maior: o Vaticano é a casa do meu último serviço, não da eternidade. (...) Estarei perto daquela Rainha da Paz a quem sempre pedi ajuda. (...) Embora saiba que Ele já me concedeu muitas, só pedi ao Senhor mais uma graça: cuida de mim, quando quiseres, mas, como sabes, tenho bastante medo da dor física… Por isso, por favor, não deixes que me magoem muito.”

O Papa poderá não estar entre nós durante muito mais tempo. Confio que Deus continuará a guiar a Sua Igreja depois da morte de Francisco. Mas a minha preocupação com ele é pessoal. Como por um familiar querido, cuja sabedoria e presença prezo, espero profundamente que recupere e que possa regressar à sua família – a Igreja Universal – uma vez mais.

Francisco é um líder. Foi o Homem do Ano da revista Time. Mal foi eleito, rezou pelo Papa Emérito Bento XVI.  Fez 67 viagens apostólicas. Veio a Portugal 2 vezes, sem nunca ter visitado o seu próprio país ou a vizinha Espanha. Foi o líder de um Estado sem forças armadas.  Levantava-se todos os dias às 4h30 da manhã para rezar, pois sabia que estar diante de Deus é contar com a força armada mais poderosa. Convidou os sem-abrigo de Roma para celebrar o seu aniversário. Deixou-se fotografar enquanto se confessava publicamente e pediu que não tivéssemos medo da confissão e dos nossos pecados. Convocou o Jubileu da Misericórdia e da Esperança. Escreveu textos que nos ajudaram a rezar e a pensar. Foi aquele a quem, um dia, perguntei: “Posso dar-lhe um abraço?” – e que, com um sorriso de pai, me respondeu: “Dá-me dois abraços”.

Francisco tem sido muitas coisas. Sentimos a sua falta. Estes dias serviram para demonstrar que, quando o Papa está doente, parece que o mundo também adoece. 

***

Não perguntei o nome da senhora que encontrei no supermercado. Gostaria de lhe agradecer aquela breve conversa, sobretudo o facto de me ter ajudado a rezar pelo Papa. Escrevi estas linhas a pensar nela e em tantas outras pessoas que têm os pés em Portugal, mas o coração e a alma diante do Hospital Gemelli, em Roma.

Que podemos fazer agora? Podemos abraçar dois desafios. 

Por um lado, revisitar o legado de Francisco, os seus gestos, os textos que nos deixou, as suas ideias chave, o tanto que escreveu. Mesmo que não tenhamos fé, a sua linguagem, os seus apelos, a sua reflexão são universais. 

E podemos tocar, como o Papa, a força da oração. O mais importante que podemos fazer por Francisco – e por qualquer Papa – é o que ele sempre nos pediu: “Rezem por mim.” Nem que seja com a oração dos não crentes: “Deus, se existes, cuida do Papa Francisco.” E, para os crentes, rezemos um Pai-Nosso.

Por P. Jorge Oliveira
In CNN – 24.FEV.2025 

https://cnnportugal.iol.pt/papa-francisco-internado-em-roma/papa-francisco-estado-de-saude/jorge-oliveira-deus-se-existes-cuida-do-papa-francisco/20250224/67bc938dd34e3f0bae9ae6fa?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=shared_site

Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

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