02 julho 2009

A História de um Chapéu (última parte)

No meio de toda esta festa o chapéu passou por todos. Do padre ao barman, não esquecendo as tias velhas e os sobrinhos mais novos. Curiosamente, mesmo antes de se ir embora, o noivo deu com o chapéu do Avô Fausto em cima da sua cabeça. Engraçado as voltas que as coisas dão. Este chapéu, tal como ele, já tinha passado por tanto. Momentos de maior loucura, momentos de grande medo e desespero, momentos em que se sentia perdido, o momento em que decidiu assentar com a sua mulher e finalmente aquele momento. O mais importante de todos. O momento em que finalmente estava em paz consigo mesmo, com o seu destino, com toda a sua vida. O momento em que se casava e partia para uma vida feliz e menos atribulada.

Tinha sido uma longa viagem. Quer para ele quer para o chapéu do Avô. Mas a vida é assim. Nem nunca se sentiria completo se não tivesse passado por tudo o que passou. Mas o que se seguia agora? Para ele, uma vida nova ao lado da sua mulher de quem tanto gostava. Tinha medo de voltar atrás. De sentir falta das noites desvairadas e dos copos com os amigos. Dos namoros de adolescente que pareciam sempre tão reais e importantes. De se descubrir a si próprio. Ia certamente sentir falta dos primeiros anos de namoro... Mas agora entrava numa nova era. Numa fase nova. E quando chegou a esta conclusão olhou para baixo.

Reparou num miúdo novinho. Era um dos seus primos mais novos. Não tinha mais que uns dez ou onze anos. E olhava para ele com uma espectativa enorme. Não. Não era para ele... Era para o chapéu do Avô Fausto. No meio de tanta confusão o pobre míudo ainda não tinha pegado no chapéu. Ele até já era crescido. Já tinha idade para experimentar o chapéu. Aquele chapéu esquisito que o seu Avô tanto gostava. Que o tinha acompanhado por tantas aventuras...

E foi aí que eu recebi das mãos do meu primo o chapéu do meu Avô. O velho chapéu de aba preta do Avô Fausto. Já está muito velhinho. Não o levo para todo o lado como o meu Avô fazia. Mas sempre que quero pensar um bocadinho sobre o que hei-de fazer da vida, ponho o chapéu do meu Avô. Afinal de contas, este chapéu já tinha sido testemunha das coisas mais extraordinárias. Se ele falasse as histórias que contaria... Histórias de coragem, amor e tristeza. Histórias para rir e histórias mais sérias. Histórias boas e histórias menos boas... Mas esta história não é sobre todas essas histórias. Esta história é a história de um chapéu. Um chapéu de aba preta, muito velho e usado. O chapéu do Avô Fausto...

BG

6 comentários:

Anónimo disse...

Bernardo, que história gira, doce. Você deve ter uma família bem gira e animada. Sabe muito bem retratar ambientes familiares. Há qualquer coisa de aconchegante, de quente, na história deste chapéu velhinho e usado. Parabéns. pcp

cris disse...

Bernardo,

E, é assim que se faz uma história, e o perpétuar de uma Instituição chamada Família.

Se não fosse o Chapéu do Avô Fausto, seria talvez, a caixa de rapé do Bisavô tal ou o Camafeu da Bisavó tal.

O que interessa é que para sermos felizes, precisamos sempre de pontos de referência, de Nortes na nossa vida.

Boa Avô Fausto, cumpriu o devido, na figura de Ancião,

Até para a semana....

Bernardo disse...

Muito obrigado. Ainda bem que gostaram.

Quem sabe se a próxima história não será mesmo sobre a caixa de rapé do Bisavô ou do Camafeu da Bisavó!

Quanto aos ambientes familiares acho que é a veia da família.

Obrigado a todos.

Anónimo disse...

Tiro o meu chapeu ao Chapeu.
SdB

maf disse...

Bernardo, já dizia o Vasco Santana "Chapéus há muitos, seu palerma" (sem ofensa :-), mas chapéus como o do Avô Fausto só há um ... o seu e mais nenhum. Parabéns pela veia artística.

Bernardo disse...

Sem ofensa nenhuma. Aliás palerma até me fica bem!
Obrigado

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