25 novembro 2009

Coimbra tem mais encanto...

Hoje, mas há uma semana, a Acreditar inaugurava a sua Casa de Coimbra. Ficam algumas das palavras ouvidas durante essa cerimónia.


Vista de fora, esta casa não é mais do que uma casa: tem quartos, salas, cozinhas; vista de fora, com a ligeireza e imediatismo com que vemos algumas coisas, esta casa não é mais do que um conjunto harmonioso de divisórias, servida por um conjunto funcional de equipamentos. Uma casa, apenas.

Mas esta casa tem de ser vista com outros olhos, com os olhos do coração, talvez; quando o fizermos, veremos mais do que chão, parede, tectos. Veremos 20 crianças que farão desta casa a sua casa. Veremos 20 Pais que, apesar de toda a diversidade de origem geográfica ou social, falarão a mesma língua e revelarão, nuns olhos que choram ou numa cara que ri, aquilo que os junta a todos: a doença de um filho e a esperança de uma cura. Para estas famílias, que aqui viverão o tempo que for necessário, sem qualquer preocupação financeira, este espaço será, na expressão feliz de alguém, uma casa longe de casa.

Esta Casa é um desafio novo para a Acreditar. Não só porque exigirá um esforço económico, laboral e logístico maior, mas porque receberemos aqui crianças com outras patologias para além do cancro. Em Lisboa estamos em frente ao IPO; em Coimbra estamos ao lado do futuro Hospital Pediátrico, e não faria sentido ser de outra forma. O convívio de todas estas realidades será, no mínimo, interessante e, seguramente um espaço de aprendizagem da diferença, da tolerância, da entreajuda. O caminho será novo, mas, no rosto de cada um que se cruza connosco, veremos essencialmente o mesmo: crianças doentes, Pais que sofrem, a esperança que nunca os abandona.

A Acreditar patrocinou, em tempos, um livro que tocava o tema das Obras de Misericórdia, algo que é caro à tradição cristã, e que inspirou a Rainha D. Leonor quando, em 15 de Agosto de 1498, fundou a primeira misericórdia de Lisboa. Uma das obras consiste, precisamente, em dar pousada aos peregrinos. Neste olhar cristão que gosto de derramar sobre as coisas, sinto que, entre muitos outros serviços, é isso que aqui faremos: dar pousada a quem se aproxima de nós, albergar aqueles que percorrem os campos da doença, da recuperação e da confiança no futuro.

À semelhança, talvez, de todas as instituições de solidariedade social, a Acreditar encerra em si uma quantidade inevitável de paradoxos. Há 16 anos, um conjunto de Pais juntava esforços e, sob o lema tratar a criança com cancro e não só o cancro na criança, fundava a Associação; hoje, como ontem e como amanhã, profissionais e voluntários entregam-se, de alma e coração, a uma luta esforçada e dedicada para encontrar formas de melhorar a qualidade de vida das nossas crianças, seja através da angariação de fundos, de campos de férias, de publicações; hoje, 18 de Novembro, reunimos uma quantidade imensa de amigos e celebramos a abertura desta Casa. Estou certo de que ninguém se surpreenderá com esta afirmação: reside, no mais fundo dos nossos corações, a secreta esperança – talvez mesmo a certeza – de que um dia assinaremos todos a declaração de cessação de actividade da Acreditar. No fundo, no fundo, aquilo que todos desejamos é poder fechar a Associação, dedicar Casas e pessoas a outros fins. Celebraremos esse dia com uma alegria redobrada, porque a expressão oncologia pediátrica terá sido atirada para o baú das doenças extintas.

Até lá continuaremos o nosso trabalho com o mesmo entusiasmo de sempre. Pensaremos numa futura casa, adaptada às necessidades e às tendências dos tratamentos; continuaremos a lutar por uma legislação que proteja os Pais; manteremos a publicação de livros que ajudem todos os intervenientes a lidar com o problema; faremos campos de férias, excursões, encontros, reuniões; estaremos presentes nos fóruns indicados para aprender e influenciar; seremos a linha da frente de tudo o que for importante para as nossas crianças. Acreditar é isto.

(...)

8 comentários:

Anónimo disse...

Ouvi a notícia na Antena 1, nesse dia 18.
Muitos parabéns, pela inauguração e o que ela representa para crianças e pais, e pelo texto.
Um abraço,
fq

Anónimo disse...

Que notícia boa! É bom fazer o Bem. É isso que levamos connosco. Obrigada, JdB. pcp

cris disse...

JdB,

É imenso o orgulho que sinto, ao ver neste Portugal falido, portugueses, com esta força e empenho, para ajudar os outros.

Ainda bem que existem pessoas, que em vez de se queixarem que isto está mau....fazem obra!

A todos, da Acreditar, parabéns e
muita força para continuar, sempre.

Até para a semana......

Unknown disse...

Não pude com muita pena assistir à inauguração da Casa por motivos profissionais, mas o meu coração estava em Coimbra e senti um imenso orgulho e emoção por pertencer a esta Associação e saber que continuamos em conjunto a crescer e a partilhar alegrias e mágoas das nossas crianças e a Acreditar sempre que o amanhã será melhor!.
Parabéns a todos.
RCS

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luísa A. disse...

Também quero acreditar que um dia, a vossa acção poderá orientar-se para outros fins. Até lá, muita coragem e muitas felicidades. :-)

DaLheGas disse...

Ena! Ena! Parabéns à Acreditar, a si JdB e a toda essa gente que diariamente se reúne para ajudar a mitigar o sofrimento. Coimbra tem sim mais encanto e mais calor.

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