01 setembro 2011

Moleskine

CitaçõesA senhora tem entre as pernas um instrumento capaz de dar prazer a milhões - e não consegue fazer mais do que arranhá-lo (Sir Thomas Beecham, maestro, alegadamente a uma violoncelista).




Sporting. Como li no outro dia num blogue, sou do tempo em que os treinadores do clube aguentavam até ao nascimento do Menino Jesus. Agora já não se sabe se chegam à mudança da hora, altura em que surge o Pai Natal (quando Nossa Senhora ainda não sabe de nada). A vida de um sportinguista é um calvário - e já encanitam os trocadilhos com o apelido do mister. Haja criatividade, porque a paciência já lá está... 
Livros. Leio A Viagem dos Inocentes, de Mark Twain (Tinta da China, 2010). Da internet: Mark Twain, «pai da literatura americana», parte num navio em direcção à Europa, passando pelos Açores, cuja descrição será irresistível para os leitores lusófonos. Respingo, do capítulo referente ao Faial, frases soltas: A comunidade é principalmente portuguesa - ou seja, pobre, apática, modorrenta e preguiçosa.  E outra, ainda: E têm um bando de apóstolos bolorentos, dilapidados, empoeirados, à volta da filigrana, alguns só com um olho, mas com um olhar lascivo no que lhes sobra, e alguns com menos dois ou três dedos, e outros sem nariz que chegue para se assoarem - todos eles aleijados e coitadinhos, mais condicentes com um hospital do que com uma catedral
Tempo. À hora a que vos escrevo, leitores de uma estranha fidelidade, vejo, através da vidraça, uma bátega de água incessante e inclemente. Nunca se viu um Agosto assim, reclamam os vendedores de bolas de berlim e de cornettos da praia de Carcavelos, que há anos apregoam os seus produtos. Trabalhei numa indústria de gelados e conheço a situação - é medonha. O que não se vende hoje não se recupera amanhã. Talvez os centros comerciais vivam felizes: anteontem, pelas cinco e pouco da tarde, o Cascais Shopping estava pejado de gente que se passeava em trajes de Verão, apesar da humidade que encaracola as melenas, porque é férias e a naftalina deita cheiro em não havendo arejamento atempado. Cá em casa - que é o último reduto onde ainda exerço algum vestígio de poder - há divisão de opiniões: a roupa não seca, o que é uma maçada mas, em compensação, não há calor para atormentar quem trabalha. 
Ando ao contrário. Há muito que o digo: quando nasci já era velho (houve quem achasse um bom título de livro...). Agora, que caminho para o ocaso da vida (um cliché...), apetece-me voltar atrás, à minha adolescência, às sensações de quem achava que o ano 2000 era uma miragem e que chegar lá seria um feito de longevidade digno de um matusalém. Talvez seja o desejo de uma certa simplicidade das relações, a ausência de grandes preocupações ou, como diria um amigo no ano de todas as tragédias, a vontade de regressar a um tempo em que a maior inquietação era o desconhecimento do programa da noite.  
Facebook. Amiga próxima, com créditos firmados na escrita qualitativa e abundante de livros, instiga-me a aderir à rede social. Nada no meu corpo se move nessa direcção e explico porquê: sentado diariamente durante algumas horas ao computador, posso alhear-me perigosamente com a simples existência de um mosquito que ronda, com o abanar ligeiro de uma cortina comprada a preços modestos, com o pensamento fugaz sobre a misteriosa vida dos ricos e famosos. Não preciso, por isso de mais distracções, para além de que vejo pouco interesse naquela mecânica. Tentam entusiasmar-me, alegando que encontras gente que não vês há quarenta anos... Deus meu! que medo, encontrar colegas da escola alemã que me diriam eh, pá, não sabia que eras tão gordo...   
Madeira. O descalabro financeiro aperta o cerco ao soba do Funchal (segundo cliché num único post...). Não nutro qualquer simpatia pelo cavalheiro em questão, a não ser aquela que sempre temos por quem é apalhaçado, com uma bonomia própria dos gordos (eu sou uma excepção). A população local - e os turistas - têm muito a agradecer-lhe (há 40 anos o arquipélago seria uma espécie de pardieiro) mas aquela ausência ridícula de sentido de estado roça o vulgar. Ironias da democracia, porque quem elege nem sempre sabe e quem é eleito nem sempre merece... 
Impostos. O ministro Vitor Gaspar anuncia mais impostos. Estou certo de que falarão um dia destes sobre o emagrecimento significativo do Estado, porque se esse tema já foi versado eu estava distraído com o abanar da cortina. Talvez para o Advento, altura em que o Sporting muda de treinador e a visão da rabanada é incompatível com a penúria generalizada. 
Imagens. Do Google de ontem, a celebrar o 110º aniversário da primeira linha de carros eléctricos entre o Cais do Sodré e Algés.

JdB 

5 comentários:

Rita disse...

LOL, o argumento é outro: encontras pessoas que nunca pensaste que existissem :-)

Ana LA disse...

Bom dia,
Que bom ver a amiga Rita por cá!
FB, pois tá claro, quem não está, não existe. Não distrai, nem perturba desde que se mantenha uma relação pouco militante e infiel com este tipo de redes.
Andar ao contrário, bem visto, porque nesta idade há tanta coisa por fazer.
Para não variar, gosto destes seus salpicos semanais.

Rita disse...

Ana, um beijo estrafegante para ti! Adoro-te!

Rita disse...

João Bragança: aprendo consigo na escrita e na elegância, é um gosto, acredite... Ao prazer de o reler!

Maf disse...

Tenho que confessar que tambem eu adoro este seu Moleskine,embora nem sempre comente. A Mãe de uma amiga minha, 101 anos de idade, recebeu uma vez um telefonema de uma suposta amiga da primária que lhe terá perguntado:"És mesmo tu, Isabelinha?" A dita Senhora desligou o telefone sem dar qualquer resposta e quando a minha amiga lhe perguntou porquê, ela respondeu: "Ai filha, mas tu achas que eu ia querer falar com uma pessoa que não vejo há 90 anos ????" LOL João, voce comecou mais cedo !
Bj Maf

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