01 julho 2012

13º Domingo do Tempo Comum

Hoje é Domingo e eu não esqueço a minha condição de católico. 

Quis o destino que me competisse comentar o evangelho de hoje. Bastava que São Marcos contasse apenas o episódio da filha de Jairo e eu já teria, em querendo, matéria bastante para me explanar em considerações várias. Mas o texto de hoje também fala de uma mulher com um fluxo de sangue persistente, pelo que me desafio a encontrar um pensamento que seja mais englobante, menos específico ou limitado à minha experiência pessoal.

Por duas vezes, a solução que Jesus apresenta aos seus dois interlocutores - Jairo e a mulher - são a Fé. A fé salvou a anónima que tenta, ansiosa e temerosamente, tocar Jesus no meio de uma multidão que O comprime; a fé salvou um pai angustiado e prostrado pelo chão perante a morte iminente da sua filha. No desespero diferente e próprio de cada protagonista, ambos partilham uma certeza comum: a fé que salvou e a fé que vai salvar. Por mais que gostemos de saber que o fluxo de sangue estancou e que a menina se curou verdadeiramente, não me parece que a relevância do texto seja essa. O milagre pode não ser a cura, mas a forma de olhar a doença. A fé pode não proporcionar saúde aos que sofrem, mas pode dar um sentido ao seu sofrimento. A fé permite que um surdo oiça, um mudo fale, um cego veja. Não as palavras palpáveis, mas as palavras do coração, porque só essas são ilimitadas na capacidade de nos salvar.

Por duas vezes, neste evangelho, há toque. Isto é, Jesus toca e deixa-se tocar e, em ambos os contactos humanos, dado ou recebido, há salvação, há cura. Deixarmo-nos tocar por algo não é apenas a sensação física do contacto, por mais importante e saudável que seja. Estender a mão ao toque é também abrirmos a alma ao inesperado, à beleza, ao comovente, à bondade, ao milagre, à coincidência  significativa, a tudo aquilo que nos faz sorrir ou chorar interiormente. Estender a mão ao toque é abrir a possibilidade do contacto com o Divino, com aquilo que nos faz acreditar na existência de Algo que é maior do que nós, que tem a capacidade infinita de nos curar um fluxo de sangue ou uma filha doente. Estender a mão ao toque é ter a certeza de, com olhos fechados, lábios mudos e ouvidos tapados, podermos ouvir tudo, ver tudo, dizer tudo. E com isso acreditarmos num Deus que não é senão amor.  

Bom Domingo para todos.

JdB

***          

EVANGELHO – Mc 5,21-43
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Naquele tempo,
depois de Jesus ter atravessado de barco
para a outra margem do lago,
reuniu-se grande multidão à sua volta,
e Ele deteve-Se à beira-mar.
Chegou então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo.
Ao ver Jesus, caiu a seus pés
e suplicou-Lhe com insistência:
«A minha filha está a morrer.
Vem impor-lhe as mãos,
para que se salve e viva».
Jesus foi com ele,
seguido por grande multidão,
que O apertava de todos os lados.
Ora, certa mulher
que tinha um fluxo de sangue havia doze anos,
que sofrera muito nas mãos de vários médicos
e gastara todos os seus bens,
sem ter obtido qualquer resultado,
antes piorava cada vez mais,
tendo ouvido falar de Jesus,
veio por entre a multidão
e tocou-Lhe por detrás no manto,
dizendo consigo:
«Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada».
No mesmo instante estancou o fluxo de sangue
e sentiu no seu corpo que estava curada da doença.
Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo.
Voltou-Se para a multidão e perguntou:
«Quem tocou nas minhas vestes?»
Os discípulos responderam-Lhe:
«Vês a multidão que Te aperta
e perguntas: ‘Quem Me tocou?’»
Mas Jesus olhou em volta,
para ver quem O tinha tocado.
A mulher, assustada e a tremer,
por saber o que lhe tinha acontecido,
veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade.
Jesus respondeu-lhe:
«Minha filha, a tua fé te salvou».
Ainda Ele falava,
quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga:
«A tua filha morreu.
Porque estás ainda a importunar o Mestre?»
Mas Jesus, ouvindo estas palavras,
disse ao chefe da sinagoga:
«Não temas; basta que tenhas fé».
E não deixou que ninguém O acompanhasse,
a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.
Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga,
Jesus encontrou grande alvoroço,
com gente que chorava e gritava.
Ao entrar, perguntou-lhes:
«Porquê todo este alarido e tantas lamentações?
A menina não morreu; está a dormir».
Riram-se d’Ele.
Jesus, depois de os ter mandado sair a todos,
levando consigo apenas o pai da menina
e os que vinham com Ele,
entrou no local onde jazia a menina,
pegou-lhe na mão e disse:
«Talitha Kum»,
que significa: «Menina, Eu te ordeno: levanta-te».
Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar,
pois já tinha doze anos.
Ficaram todos muito maravilhados.
Jesus recomendou-lhes insistentemente
que ninguém soubesse do caso
e mandou dar de comer à menina.

2 comentários:

Maf disse...

João, que palavras tão sábias e tão verdadeiras .... essas ! De facto, quantas vezes nos retraimos, na verdadeira acepção da palavra, quando alguém nos quer tocar ou abraçar, como se esse toque nos comprometesse, como se esse abraço nos pedisse algo mais para o qual não estamos preparados. Pare ce que temos medo. E, afinal, Jesus na sua simplicidade vem-nos dizer todos os dias: filho, deixa-me tocar-te!
Obrigada. Bom Domingo.
Maf

Anónimo disse...

João,
Excepcional texto!
Obg muitas vezes.
Abr
fq

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