A astrologia condiciona ou aumenta o livre
arbítrio?
Muitas das minhas consultas astrológicas começam assim:
Por outras
palavras, estou a parafrasear Shakespeare:
Este diálogo
revela interrogações mais profundas e que têm sido objecto de contínuos debates
filosóficos e religiosos. Os agentes do destino, as divindades que manipulavam
os fios da teia que é a nossa vida, as Moirai, eram importantes figuras na
mitologia grega. Mas, em resumo, as perguntas são: O nosso destino é predeterminado
ou temos livre arbítrio para decidir entre as várias escolhas ao nosso alcance?
Somos marionetes accionadas por forças invisíveis ou somos definidores no nosso
caminho?
Na minha área
acrescento mais uma: A astrologia condiciona ou aumenta as escolhas e,
consequentemente, o livre arbítrio?
Na minha
opinião, o destino é formado por uma combinação de factores que advêm das
condições do nosso nascimento, acontecimentos sobre os quais não temos controlo
e factores que podemos modificar através da consciência, esforço e disciplina.
Acredito que
as condições do nosso nascimento não são acidentais, não nos “calhou” essa
sorte, mas são ditadas pelo nosso caminho espiritual e cármico. Como muitos dos
meus colegas astrólogos, acredito que antes de nascermos escolhemos o país, a
família de origem, a época e o momento do nascimento. Essa escolha vem da alma,
isto é, de um ponto espiritualmente elevado fora do alcance da consciência. Independentemente
da crença pessoal, estes factores são predeterminados. Aqui não há livre
arbítrio. Ter nascido mulher, em Portugal, em 1950, numa família de classe
média alta, determinou grande parte do meu destino. Se tivesse nascido homem,
negro, no Sul dos EUA, nessa mesma época, de pais trabalhadores rurais, o meu
ponto de partida seria muito diferente e o meu destino (como ponto de chegada) também.
Em segundo
lugar, podemos não ter controlo sobre certos acontecimentos, mas temos controlo
sobre a nossa reacção a esses acontecimentos. Ao desespero e à pena de nós
próprios podemos contrapor aceitação e força, se formos vitimas de um
acontecimento traumático. A crise económica (acontecimento social) desperta
numas pessoas empreendedorismo, noutras a vontade de emigrar, e noutras a depressão.
A gestão da crise está fora do nosso campo de escolhas, mas temos livre
arbítrio sobre o que fazer dela.
O terceiro
grupo de factores é o mais relevante para responder à questão inicial. Outra
conversa frequente:
O que deveria
responder: Antigamente acreditava-se que a astrologia revelava o destino de uma
pessoa e que o tema natal era determinístico. A astrologia servia para saber
que teia as Moirai tinham tecido e, nesse quadro, talvez a ignorância seja uma
bênção. Apesar de a astrologia actual que pratico continuar a assentar sobre a
frase atribuída a Hermes Trisgemistos “O
que está em abaixo é como o que está em cima” ou noutra tradução “assim na terra como nos céus”, com o
desenvolvimento da psicologia arquetípica, tornou-se um instrumento de autoconhecimento,
um instrumento liberatório onde, através das escolhas na parte do destino que
controlo, posso ser parte activa no traço do meu caminho de vida.
Nas palavras de
filósofo Richard Tarnas: O grande mérito
da Astrologia é que ela parece revelar muito precisamente que arquétipos são
importantes para cada pessoa, como eles interagem uns com os outros, e quando e
como têm maior probabilidade de serem expressos no curso da vida. Deste ponto
de vista, o tema natal não é uma prisão distribuída aleatoriamente que nos leva
a um destino inexorável, mas pode ser visto como a definição da estrutura
básica do nosso potencial - sugerindo os dons pessoais e as provações que escolhemos
para que nesta vida possamos evoluir. A
Astrologia ilumina as dinâmicas arquetípicas fundamentais que condicionam
profundamente nossas vidas, o que não quer dizer que determinem as nossas
vidas.
A astrologia
permite compreender melhor a nossa personalidade, os nossos complexos, trazer
ao nível do consciente as pulsões inconscientes que nos fazem agir sempre da
mesma maneira e, assim, libertarmo-nos de nós próprios. A astrologia é um
extraordinário instrumento de desenvolvimento pessoal. A astrologia é o motor
de arranque para:
Plantar um pensamento, colher um acto
Plantar um acto, colher um hábito
Plantar um hábito, colher um carácter
Plantar um carácter, colher um destino.
Luiza Azancot
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