Miradouro de Santa Luzia, Viana do Castelo, Setembro de 2014 |
Aqui há dias ouvi alguém falar de grandes semelhanças entre Alice no País das Maravilhas e O Feiticeiro de Oz. O ponto comum (entre possíveis outros)? Ambos tratam de um caminho. O que os difere (entre outros, também)? O Feiticeiro de Oz é sobre o regresso a casa. O assunto tocou-me e registei-o num livrinho para o abordar em tempo útil. Não sei mesmo se o tema não foi já abordado neste estabelecimento.
Em bom rigor, o que é o regresso a casa? É o regresso às rotinas que nos descansam, aos espaços que nos são familiares, às zonas que constituem o nosso conforto. Será isto o que ambiciono quando viajo? Talvez hoje o sinta mais acentuadamente, mas de há muito tempo para cá que defendo que a beleza da partida consiste na certeza do regresso. Nenhuma viagem fica completa só com uma ida, mesmo que o regresso seja uma certeza porque há bilhete de avião ou agenda profissional. Voltar a casa tem de ser um encanto misterioso, não uma necessidade prosaica.
Ora, acredito que o conceito de regresso a casa abrange outras realidade. O que procuro quando escrevo sobre as minhas nostalgias? Fazer um mero exercício de criatividade? Pouco provável. Socorrer-me da palavra escrita porque a palavra falada me é mais difícil? Talvez. Acredito que as minhas nostalgias persistentes são um regresso a casa. Como se ambicionássemos o nautilus - onde tudo está à distância de um braço - ou acender uma lanterna resguardado debaixo de uns lençóis, porque ambos representariam, na ideia de Roland Barthes, uma espécie de casulo onde reside a nossa segurança e o controlo da vida.
Sim, tenho a certeza de que o regresso a casa é a alegria do bilhete de volta na mão, mas também as memórias de tempos e de sensações onde me refugio - ou que revisito simplesmente para dizer coisas a outros. Disso não me parece haver dúvidas. Em bom rigor, só tenho duas perguntas: onde é a minha casa, na realidade, e para que serve regressar-lhe com esta idade?
JdB
1 comentário:
A essas perguntas respondo a' minha maneira: a minha casa e' onde o corpo segue processos automaticos - estendo a mao e sei o que encontro -, onde posso estar sozinha, na privacidade, longe dos outros ex familia, onde posso baixar guardas. Nao e' uma necessidade prosaica mas sim um equilibrio porque estar no mundo, por aliciante que seja, e' cansativo. Sem esse equilibrio nao volto a partir, vagueio.
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