O Profeta
O Profeta nasceu cerca de 570 E.C. [Era Comum] - a tradição islâmica aponta a data de 20 de abril de 571 (12 de abril de Rabi I, o terceiro mês do calendário árabe, no Ano do Elefante), como a efetiva data de nascimento. De seu nome completo Muhammad bin Abdil-lah bin Abdul Muttalib bin Háxime, "Maomé" tornou-se a forma mais corrente de identificação do Profeta.
Seria filho de Abdullah e de Amina. O seu pai terá falecido pouco tempo antes do seu nascimento. Maomé terá conhecido a pobreza durante a sua infância e juventude.
Com a morte do pai, Maomé terá como tutor o seu avô paterno Abdul Muttalib, que ocupava em Meca o importante cargo de "siqáya" (serviço de distribuição pelos peregrinos da água sagrada do poço de Zamzam).
Para o Islão, Muhammad é o mais recente e último profeta do Deus de Abraão. Neste sentido, o Islão integra e identifica numa proximidade muito grande as restantes "religiões do Livro", isto é, as religiões que também se identificam com essa origem comum que é Abraão.
Para os muçulmanos, Muhammad foi precedido, no seu papel de Profeta, especialmente por Jesus, Moisés, David, Jacob, Isaac, Ismael e Abraão.
É totalmente proibida qualquer representação ou figuração de qualquer um dos Profetas do Islão.
Meca
A centralidade de Meca para o Islão é incomparável e pode sistematizar-se em vários tópicos: foi aí que nasceu o Profeta; foi aí que começaram as revelações; foi daí que teve de fugir para Medina, iniciando a Hégira; foi a esta cidade que regressou e onde estabeleceu os ritos principais do Islão.
Esta centralidade reflete-se no facto de, por apenas um curto espaço de tempo, a orientação da oração não ter sido Meca, mas sim Jerusalém. De resto, todo o atual Islão se vira cinco vezes por dia na sua direção, para dirigir a sua voz a Deus.
De Meca, o Profeta teve de fugir, iniciando assim a chamada Era Muçulmana (ou da Hégira), por onde se inicia a contagem do calendário islâmico. De facto, os meios mais abastados de Meca não reagiram de forma positiva à mensagem de Muhammad, que obrigava à dádiva, à compreensão pelo mais fraco, à prática da justiça.
Atualmente, mais de três milhões de peregrinos rumam todos os anos a Meca. Em meados dos anos 60, este número era apenas de cerca de 90 mil, o que mostra o grande e rápido incremento desta viagem espiritual no mundo muçulmano.
Meca é uma cidade totalmente orientada para a peregrinação, que, no seu auge, no 12.º mês, atinge valores nunca vistos em qualquer outro local sagrado do mundo.
As várias levas de obras, de ampliações, na Mesquita Al-Haram são imagens desse aumento de peregrinos, perfeitamente interpretado pelas autoridades da Arábia Saudita, na pessoa do "Guardião das Duas Mesquitas Sagradas", o monarca saudita. A mesquita, que pode abrigar um milhão de crentes, ficou com nove minaretes, o maior número do Islão.
A Caaba
Só aos crentes do Islão é permitido entrar dentro do recinto de Meca onde se encontra a Caaba e a fonte Zamzam. Apenas em estado de pureza se podem fazer os ritos necessários para que a peregrinação a Meca seja cumprida. Sem enfeites, sem nada que os distinga socialmente, os peregrinos percorrem os espaços sagrados de Meca, onde todos são absolutamente iguais.
O centro do mundo muçulmano é a Caaba, à letra "construção quadrada", com cerca de 12 por 10 metros e 15 de altura. Está coberta por um grande brocado preto; a porta está coberta por um pano, uma cortina, com inscrições sagradas.
Num dos cantos da Caaba encontra-se a Pedra, que marca o início da circulação em torno do recinto, "Tawaf"-
Geologicamente, tudo leva a crer que se deve tratar de um pedaço de meteorito, o que está de acordo com a tradição que diz que ela veio do Céu. Segundo essa tradição árabe, ela teria caído no Jardim do Paraíso, oferecida por Deus a Adão.
Posteriormente, foi dada pelo anjo São Gabriel a Abraão. Esta fez a "Casa", a Caaba, e criou os primeiros rituais, entre eles a peregrinação (Alcorão, sura XXII, 27-39):
«[Lembra-te] que indicámos a Abraão o local da Casa [Santa] dizendo-lhe: "Na tua adoração conserva pura a Minha Casa para os que dão as voltas, para os que se levantam para orar, para os que se inclinam e para os que se prostram. Anuncia aos homens a Peregrinação. Que venham ao teu encontro, a pé ou em camelos de carreira rápida, vindos de todas as terras afastadas."»
Medina
Situada na linha imaginária que une Meca a Jerusalém, Medina, para onde fugiu o Profeta, é a segunda cidade santa do Islão.
Foi em Medina que o Islão teve o seu berço. Foi lá que o Profeta foi aceite como membro ativo no tecido social, regulando as práticas sociais e religiosas, iniciando consistentemente uma nova religião.
Nessa época, talvez metade da população de Medina fosse judia, e uma parte considerável da terra, assim como da manufatura, estaria nas suas mãos. Os judeus ocupavam um lugar de grande relevo na vida económica da zona, e a sua prosperidade contrastava de modo flagrante com a relativa pobreza dos árabes. Parte do Alcorão é revelado ao Profeta nesta cidade (22 suras).
E aqui que o Profeta organiza a sua comunidade, o modelo por excelência do Islão, pelos séculos seguintes. Foi de MEdina que partiram os primeiros ex´cercitos para o Egito, para a Pérsia e para a Síria.
Medina tem uma das duas mesquitas que são parte integrante das funções mais importantes do monarca saudita, o "Guardião das Duas Mesquitas Sagradas": a Mesquita do Profeta.
Tal como Meca, também em Medina aumentou o número de peregrinos por ano. Nessa linha, quase contemporaneamente das obras da Mesquita Al-Haram de Meca, começaram as de Medina, que pode receber 430 mil crentes.
Jerusalém
Os muçulmanos consideram Jerusalém como uma das suas principais cidades santas, a terceira, pois foi lá, no local de uma das suas magníficas mesquitas, que o Profeta foi elevado ao Céu.
Sob domínio persa, durante vários séculos, em 638 a cidade rendia-se ao califa Omar, ainda no início do movimento islâmico. Terminava aqui o percurso da cidade antiga, lançando-se agora as primeiras pedras da cidade medieval com que o mundo cristão europeu se irá confrontar.
No virar do primeiro milénio nasceria na cristandade a ideia de cruzada, por sete vezes repetida na prática, que epifenomenicamente levaria o domínio da cidade para o lado cristão, domínio acompanhado por uma das mais longas guerras da humanidade.
Nesta cidade milenar, a Cúpula da Rocha é um dos locais mais sagrados para o Islão. Esta magnífica construção alberga, no seu interior, uma superfície livre do monte Moriá, possivelmente do espaço onde se situava o local mais sagrado do Templo Judaico, o "Santo dos Santos".
Trata-se de um santuário em forma de mausoléu, com planta octogonal, construído entre 687 e 692, pelo califa Abd Al-Malik. Este local está carregado de simbologia para os muçulmanos. O traçado da sua implantação no terreno, da sua forma geométrica, foi conseguido com um conjunto de quadrados rotativos, o que tem inúmeras implicações numerológicas.
Numa simbologia muito mais profunda para os crentes, foi neste espaço que o Profeta Muhammad ascendeu ao Céu na sua célebre "Jornada Noturna" desde Meca, montado no seu "Buraq".
Era, a início, no século VII, um local mais sagrado para os muçulmanos do que Meca ou Medina. Era na sua direção que se orava. A brilhante cúpula desta mesquita é de alumínio, revestida a ouro, e decorada com versículos alcorânicos.
O outro importante edifício para o Islão é a Mesquita de Al-Aksa, local que não pode ser compreendido sem o anterior. Esta mesquita está exatamente na linha Norte-Sul da Mesquita da Rocha. Dentro do mesmo recinto sagrado, esta mesquita é como que um acréscimo à anterior.
Foi erigida entre 707 e 709.pelo califa de Damaco, Al-Walid. Já orientada para a Caaba, esta construção foi vítima de inúmeras batalhas e motins. Trata-se de um edifício de grandes dimensões, considerado, por alguns especialistas, como a basílica originalmente construída por Justiniano, no ano de 536 E.C., em homenagem a Santa Maria, mais tarde convertida em mesquita pelos muçulmanos.
Muçulmano
"Muslim" é o particípio ativo do verbo "aslama", palavra especializada no árabe moderno no sentido de «se tornar muçulmano», «converter-se ao Islão».
É normal atribuir ao verbo "aslama" o sentido etimológico de «submissão», e dizer que "muslim" significa literalmente «submetido (a Deus)». Mas, de facto, a verdadeira etimologia da raiz implica uma diferença subtil: a raiz "slim" tem significado primordial de «ausência de contestação», derivando daqui o sentido bem conhecido da palavra "salâm", «paz», «saúde»; no hebraico, língua próxima, "shalom"; o verbo derivado "aslama" dveria significar «pôr-se de paz com» ou «fazer a paz».
Desta forma, num sentido muito mais abrangente, o muçulmano é aquele que se põe de paz com Deus, que coloca a existência de Deus e o seu poder acima de tudo.
In "Religiões - História, textos, tradições", ed. Paulinas, tirado daqui
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