26 dezembro 2016

Do Natal ser das crianças

À hora a que me leem, as festividades do Natal acabaram para a maioria das pessoas, embora nalguns locais o dia 26 ainda seja tempo de festejo. Muitos de nós queixar-se-ão do excesso de calorias ingeridas mas, como diz a frase em circulação, não culpes o Natal. Já eras gorda em Agosto...  

O primeiro input para o este post, escrito no dealbar de uma ressaca gastronómica toda feita de uma sucessão de bacalhau e de peru, surgiu com o vídeo abaixo, que retirei do Delito de Opinião na minha ronda de blogues na véspera de Natal.



Não sabia bem o que havia de escrever, mas algo me dizia que este vídeo, que via pela primeira vez, não podia passar em branco, mas também não podia passar pela simplicidade da ideia de paz possível quando os Homens querem ser anjos, e não apenas Homens.

O segundo input surgiu quando, numa conversa informal numa cozinha onde se sentiam ainda os aromas de vinho da Madeira, manteiga amolecida e sumo de laranja e limão com que se injectou o peru, alguém afirmou que o Natal era para as crianças. A minha primeira reacção (e foi o meu lado "intelectual" a falar, não o emocional) saiu por via de um pensamento em voz alta: para as crianças? E porque motivo há-de ser para as crianças? E se é para as crianças, o que nos diz isso, de facto?

Em bom rigor, o Natal não é das crianças, mas passou a ser das crianças - talvez elas se tenham apropriado da festa. As crianças gostam daquilo a que se chama a magia do Natal, que mais não é do que um conjunto de luzes brilhantes, árvores de Natal enfeitadas, azáfama consumista, um presépio feito de imagens estilizadas ou populares que vão perdendo o significado cristão, porque já ninguém lhes explica quem é o Menino Jesus. Talvez esta ideia do Natal ser das crianças tenha feito muito mal ao Natal, e ao verdadeiro espírito da festa. E, por isso, o Natal só é das crianças se nós, adultos, nos tornarmos crianças - puras de espírito, abertas ao Amor, simples na gestão das relações. E, por isso, o Natal só é magia se operar uma magia nos nossos corações.

O motivo para a importância do filme que coloco mais acima foi-me dado pela crónica do Pe. Miguel Almeida, de um destes dias no Observador,  que diz esta frase luminosa: Ao contrário, o Natal é esse reconhecimento da necessidade dos outros e do Outro na nossa vida. Naquela noite gelada de há 102 anos, todos aqueles soldados sentiram a necessidade dos outros e do Outro nas suas vidas. Não havia luzes, bolas coloridas, barretes ou meias a enfeitar janelas e a esconder presentes. Não havia crianças a correr, de olhos postos no relógio intuído que permite a destruição do papel colorido que embrulha mais um jogo. Havia uma guerra, dizem que a mais brutal de todas as guerras na história do mundo. E houve Natal, muito mais Natal do que em todos os Natais que se celebraram nesta Europa que viveu tantos anos em paz. 

Olho à volta, penso, oiço, intuo, deduzo. O Natal cristão (há outro?) está condenado se não o tornarmos mais simples, despido das canseiras em que se tornou quando alguém decidiu que o Natal é das crianças. Mesmo que as crianças sejam o melhor do mundo, o Natal não é delas, mas de todos os Homens de boa vontade. E se o Natal não for nosso, dos Pais destas crianças, só lhes daremos presentes, nunca futuros.

JdB 

1 comentário:

aritnetoj disse...

Subscrevo, temos de lhes dar mais futuro...
Beijinhos

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