Sou de uma geração em que um gin tónico era um gin tónico: copo alto, Gordon's, uma rodela de limão, gelo, água tónica até acima. O pico da evolução foi quando alguém espremeu um pouco de limão no copo. Para mim, o gin tónico, bebida corriqueira mas inacessível aos bolsos médios, havia atingido um patamar diferente - havia um toque de sofisticação, de quântica, de química do palato.
O gin tónico tornou-se, não numa bebida, mas num ritual. Fui a um casamento em que havia bicha para um bar que só fazia essas bebidas (este tipo de bar tem um nome, mas esqueci-me). A bebida era demasiadamente evoluída para poder ser trazida por vulgares empregados de libré branco e bandeja de alumínio. Fazê-lo era pouco diferente de levar a imagem de Nossa Senhora de Fátima na mala de um Anglia Fascinante. Num casamento anterior, um amigo indignou-se de forma menos educada quando viu a água tónica que lhe vertiam sobre o gin (Schweppes): vocês só têm esta água tónica?
Beber gin é um ritual vedado a gente não iniciada. Só alguns poucos percebem a importância das bagas de junípero (Juniperus communis) ou das cascas de pepino, ou a importância, ao nível da mecânica dos fluidos, de um líquido que não cai em cachão em cima do gelo, do limão e do gin, mas rodopia numa colher com pega em espiral. Não sei para que serve a cenoura. Mas também não sei para que serve uma barba hirsuta que (não) pega com uma calvície forçada.
Não conhecia a banda sonora. O Shazam diz-me que são os Blackmale Beats, cantando Intro to the Endz. Como não conheço nada, pode acontecer que o nome da banda seja, afinal, o nome da música.
É isto, no fundo.
JdB
3 comentários:
Eu gosto de beber Hendrick's com pepino!
Manias.
ups , mas aquela «palinha» no gin tónico histórico também não augura nada de bom...
Adorei, concordo em absoluto com o seu sarcasmo com esta nova moda...
Beijinhos
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