14 dezembro 2018

Duas Últimas

É imperioso que os meus fiéis leitores leiam o poema abaixo antes de se deitarem à escuta da interpretação do fado pela boca privilegiada de Fernando Maurício. Ao que parece, há uma história autobiográfica (mas não afianço) por trás desta letra específica cantada por este fadista específico. Mas o poema é um primor (e não estou a ser irónico): em 24 linhas, mais coisa menos coisa, está toda uma história de vida: o arrependimento pela desilusão causada, as escolhas erradas, o desejo de regresso à infância, esse grande território de onde todos saímos, como diria Saint-Exupéry.

JdB  




Diz-me Mãe

Tu não tens culpa mãe, de eu ser só isto
Havia dois caminhos, do diabo e de Cristo
Um terceiro inventei e nele me perdi
Então criei sozinho um outro mundo, tão belo
Tão perfeito como a curva suave do teu peito, que não vi
Mãe quero ser pequenino, que os meus primeiros passos
Sejam iguais aos do menino saído dos teus braços, sem ambição
Tu não tens culpa mãe, de eu ser só isto, perdão

Diz-me, diz-me, minha mãe
Na tristeza desta hora
Quantas dores eu te custei
E te dei pla vida fora
Diz-me, se quando dormia
Nesse teu colo divino
A tua alma não pedia
A Deus, pelo teu menino

Diz-me tu, que me geraste
Meu vaso, minha raiz
Quantas lágrimas choraste
Plas loucuras que fiz
Todas as dores do passado
E do presente também
Descansa-as neste meu fado
Boa noite minha mãe

Poema de Mário Rainho cantado,

2 comentários:

Anónimo disse...

Bravo!!

Abr
fq

ACC disse...

Há anos que oiço falar deste fado e finalmente consigo ler e ouvir.
Não imaginava que me pudesse surpreender com a força do sentimento.

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