25 junho 2019

Poemas dos dias que correm

yes, i remember

lembro-me bem desse tempo sem e.mail,
computador, browser, messenger, blogs.
lembro-me bem desse tempo de papel,
desenhado a tinta com cor, cheiro, textura.
lembro-me bem do tempo em que se desenhava a palavra amor,
seus contornos, sublinhados, traços,
até das sombras e da parte escura.
lembro-me bem da fisicalidade desse escrever,
agora em que a electrónica é nossa senhora,
em que os dedos são já só bites e baites,
em que em vez das noites certas, temos só 'the right nights'.

às vezes apetecia viajar no tempo,
reaparecer numa fila dos correios
ansiosos pela espera da nossa vez,
comprar selos,
inundar os lábios de cola,
fazer da carta a semiótica de uma reencontrada pureza,
voltar são e salvo à criança que fomos (infância à mesa),
um cavaleiro reinvestido
da távola redonda que resta:
escola dos sentimentos altos,
gestos elevados, carácter nobre.
deixar para trás este futuro que anuncia 'e.ouro'
mas nunca deixa de ser moderado cobre.

tinta, papel, dedos,
coração em risco de comoção
escrever como dantes, sem medos,
arder de amor no frio
e morrer branco e puro
em cada ínfima inundação.

gi

* publicado originalmente a 8 de Maio de 2009

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