19 maio 2020

Pensamentos dos dias que correm *



Há dias aziagos.

Há ideias e decisões que nos povoam a mente durante alguns dias: um pensamento que se quer partilhar, um propósito que é preciso fazer, algo que é necessário dizer.

Medita-se sobre a melhor forma, o timing correcto, as palavras certas. Tudo em nome da eficácia e dos princípios que nos norteiam.

All of a sudden, diriam os ingleses, há um ligeiríssimo desalinhamento dos astros materializado em algo imprevisível, como se o meio-dia chegasse alguns minutos antes, como se o sol desaparecesse, não por trás da linha do horizonte, mas na vertical do nosso lugar, como se a água fervesse a 51º.

De repente, um minúsculo grão de areia deita por terra os pensamentos, as decisões, os propósitos, a noção de tempo exacto.

De repente, tudo em nós se desarticula, range num esforço de máquina forçada, estrebucha como criança que luta contra a sesta benfazeja.

De repente, já não somos nós, mas alguém que, cá dentro, revela o pior que todos temos: a escuridão, o frio, o mal. Elementos que não existem por si, mas pela ausência do seu inverso.

Alguns dos que me lêem sabem do que falo. Assim como sabem que há duas coisas que me pacificam interiormente. Uma é a música clássica bonita, aqui expressa nesta belíssima ária de Puccini. A outra...

Adeus, até ao meu regresso...

JdB

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* publicado originalmente a 10 de Maio de 2009

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