Aqui há umas semanas fui a um prédio específico. A senhora da limpeza segurou-me a porta, perguntou-me para que andar eu ia e expliquei-lhe o enquadramento. Em 10 minutos soube que tinha sido vítima de violência doméstica, que a filha preferia viver num quarto com os dois filhos a ir viver para aquela moradia (onde tudo se passara) tal o trauma das memórias. Um minuto depois do drama estava a mostrar-me o telefone para eu ver a mãe dela, uma senhora com 91 anos, a cantar uma modinha qualquer. Entre cumprimentá-la e saber toda a sua a vida (a mãe era muito feliz embora fosse quase cega, disse-me) foram 11 minutos.
Esta semana voltei ao mesmo prédio. Calhou-me a mim segurar a porta para uma senhora bastante idosa poder sair. Agradeceu a gentileza e a educação, queixou-se da falta de cavalheirismo que por aí grassa, em particular, referiu ela, nas passadeiras. E disse-me: sabe, já por várias vezes fui vítima de tentativas de atropelamento. No outro dia foi um carro e uma trotinete... Recuei uns centímetro para ver melhor a senhora. Não é todos os dias que nos confrontamos com uma octogenária que é repetida vítimas de tentativas de atropelamento. Que segredos guardará ela?
Um prédio em Lisboa, duas pequenas conversas. Em 10 minutos podemos saber tudo sobre a vida de um desconhecido. Não vejo o dia de lá voltar...
JdB
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