14 abril 2021

Vai um gin do Peter’s ?

 NOVO DESIGN DE JÓIAS – A CORAGEM DE RESISTIR

Com o comércio local especialmente penalizado pelos sucessivos confinamentos, que tentam reduzir os contágios do coronavírus e assim reduzir a pressão sobre o nosso frágil sistema de saúde, muitas pequenas empresas foram forçadas a reinventar-se para não falir! As vendas online foram o primeiro passo e com ele vieram mais serviços, maior variedade de produtos e de designs, um novo marketing, etc. Talvez o maior salto tenha sido dado pelos sectores tradicionais mais dependentes dos clientes de boa idade, em geral, menos digitais. É, por exemplo, o caso da história feliz de inúmeras ourivesarias & joalheiros, que souberam reemergir, com galhardia, através de montras virtuais. Alguns viram-se recompensados com públicos mais novos e alargado a outras geografias, experimentando a facilidade de o digital galgar fronteiras. 

Em Dezembro de 2020, a bi-centenária Leitão & Irmãos acrescentou a uma loja online já em velocidade de cruzeiro, uma decoração mais jovial na sua loja do Chiado. Mantiveram os veludos e as vitrinas de iluminação indirecta, mas arriscaram no tom ao escolher um amarelo forte e festivo, que quadra bem com um chão agora revestido a calçada portuguesa. Assim tentam o ponto de equilíbrio entre um legado histórico como joalheiros da Casa Real e o aggionarmento necessário para a longevidade da marca. A primeira loja foi inaugurada no Porto, em pleno séc. XIX. Passados poucos anos, já no terceiro quartel de oitocentos, instalaram-se em Lisboa, perto da sua oficina do Bairro Alto, para ficarem mais próximos da corte. Com versatilidade e bom senso, já chegaram à sexta geração. 

Largo do Chiado, 16 (Chiado), entre a Vista Alegre e a Igreja do Loreto. TELEFONE 213257870

Algumas peças tradicionais persistem, como a colher de café ou a medalha de Nossa Senhora de Fátima do tempo da Guerra (a partir de 1942) ou os faqueiros e os castiçais clássicos. Mas, por exemplo, nos últimos anos, o design de taças e potes passou a misturar prata com porcelana de cores garridas, num efeito refrescante.



As colecções temáticas começaram a pulular como cogumelos e os padrões decorativos de outros sectores transitaram para a joalharia com naturalidade, evocando a azulejaria, a cerâmica, a escultura, a profusão de texturas dos materiais de construção, os têxteis, etc. A própria natureza também tem sido uma fonte de inspiração inesgotável para peças funcionais ou apenas decorativas. 

Caixas em prata – a fila de cima da série “frutos do mar” e a de baixo de “frutos do bosque”

Já tinha chegado a vez de as joias se transfigurarem e inclusive se estenderem a peças sem metais nobres, apostando em designs modernos, embora de linhas clássicas mais intemporais. Umas vezes adoptam leit-motiv temáticos, outras simplesmente estilizam a traça antiga, tendo por fio condutor a portugalidade.

Colecção Azulejo português

Da filigrana tradicional com os corações de Viana às linhas geométricas.

Botões de punho das colecções “Knot me” e da “Boa Esperança”.

Nos ateliers nascidos já neste século, a transição para o negócio online foi directa, pelo que a pandemia apenas intensificou a tendência. A novidade foi terem optado por estabelecer uma parceria alargada com a concorrência, num gesto pouco comum em Portugal. Em conjunto, lançaram uma série de estéticas bastante diversificadas. Chamaram-lhe «shaped by nature» para forjar brincos, anéis, colares e outros acessórios, que vão do estilo neo-barroco até às linhas mais depuradas:



Duas amigas de sectores diferentes – uma de ourivesaria e outra do sector alimentar – resolveram tornar-se complementares e lançar um pacote com uma jóia e doçaria inspiradas nos lenços que eram bordados para os namorados. Designaram-na de “Com Amor”:  

Há 7 peças diferentes e na caixa de chocolates, os corações têm cobertura de pistácio ou framboesa ou rosa. 

Merece um enorme aplauso a quantidade imensa de gente empreendedora e corajosa, que continua a lutar e a resistir às dificuldades incríveis que se lhe atravessaram no caminho, em vez de ‘atirar a toalha ao chão’. Eles têm-se esmerado a fazer a sua parte, pelo que o mínimo – de quem está do lado de cá da barricada – é noticiá-los, lembrá-los e, quem sabe, abrir-lhes mais públicos?...


Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom. Sem alguma tristeza.

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