22 junho 2021

Das compulsões

Todos conhecemos a compulsão  - em nós, ou nos outros. Pode revelar-se no consumo de droga ou de álcool, no jogo desenfreado ou numa vontade insaciável de comer. Nada se faz por prazer, para apreciar um bom momento ou desfrutar de minutos de satisfação. Bebe-se, joga-se ou come-se porque sim; para atingir um estado de olvido, para recuperar o que se perdeu, porque há uma química qualquer que nos manda consumir mais e mais. Deglute-se um queijo grande em dez minutos, come-se caviar com uma concha da sopa. Porquê? Porque sim; porque pode faltar, porque está ali, porque há uma sensação psicológica de fome. Come-se depressa para poder comer mais.  

Conhecei / conheço tudo: gente que bebeu e deixou, que se drogou e deixou, que jogou e deixou. Talvez a compulsão da comida, por ser menos nociva de uma imagem social ou de um pecúlio bancário, seja mais difícil de combater. Aos outros (ou também outras) conheci-os/as na fase do durante e na fase do depois, o que é sempre reconfortante. 

Portugal tem a compulsão da pedinchice, como pode ver-se, de forma confrangedora, neste video. Aos 50 segundos, mais ou menos, Costa pergunta, com aquele ar satisfeito de quem passa por todos os pingos da chuva, se já pode ir ao Banco buscar o dinheiro com que ele pretende salvar a nação. Podia fazer uma graçola de oportunidade sobre a recuperação, sobre a forma difícil como se diz resiliência em alemão ou mesmo que o texto não estava escrito PMingLiU, um tipo de letra que lhe diz muito, vá lá saber-se por quê. Costa queria apenas pedinchar, dar azo a essa compulsão tão portuguesa. Enquanto uns bebem, outros jogam, outros comem, António Costa pedincha dinheiro - e não se coíbe de o dizer. Só me admira não ter perguntado: e o bancozito, onde é o bancozito?

Conheci / conheço gente com compulsões: dominam-nas, vencem-nas, travam batalhas difíceis. Conheço-lhes, repito, o antes, o durante e o depois. Portugal, infelizmente, temo nunca lhe conhecer o depois.  

JdB

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