Aos meus 20 anos estava-se em 1978. Nada de muito memorável me vem à memória: estava atrasado nos estudos, tinha amores felizes e infelizes, fazia praia na altura certa e punha meias na altura certa. Tinha amigos, festas, bebia cerveja e dançava. Era imberbe, magro e fumava Português Suave sem filtro - o fumo mais agressivo que atravessou os meus pulmões, sendo que nas veias nunca entrou nada nocivo.
Como me disse um amigo num ano particularmente difícil, aos 20 anos o drama mais grave das nossas vidas era não saber o que fazer nessa noite. O drama era igual em 1977 e, vou apostar, em 1979. Um anos antes de ter 20 anos e um ano depois de ter 20 anos estava atrasado nos estudos, namorava, fazia praia, dançava, etc., etc. Uma vida que, em bom rigor, pouco acrescentava à riqueza das nações.
Ora, acontece que os 20 anos serão importantes - pelo menos do ponto de vista musical. Senão vejamos:
Na sua famosa música, Hier Encore, Charles Aznavour canta:
J'ai joué de la vie
Comme on joue de l'amour et je vivais la nuit
Sans compter sur mes jours qui fuyaient dans le temps
J'ai fait tant de projets qui sont restés en l'air
J'ai fondé tant d'espoirs qui se sont envolés
Que je reste perdu, ne sachant où aller
Les yeux cherchant le ciel, mais le cœur mis en terre
O que une Charles Aznavour e Cidália Moreira? Em que ponto do Universo, tangível e intangível, se encontram o arménio e a fadista cigana? Em tudo: no palco, na emoção, na paixão pela música e, sobretudo, num olhar retrospectivo sobre os 20 anos - anos de brincar aos amores, de fazer castelos no ar, de ter olhos franciscanos e amores de Santo Deus.
Os 20 anos cantam-se aos 50 ou aos 60. Ninguém, com 20 anos, canta músicas sobre os 20 anos. Ou, mais certo ainda, ninguém na grande noite do fado infantil deseja ter outra vez 20 anos... Os 20 anos são coisas sempre do passado. Já dos 19 ou 21 ninguém canta...
JdB
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