VIVE, DIZES, NO PRESENTE
Vive, dizes, no presente;
Vive só no presente.
Vive só no presente.
Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.
O que é o presente?
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas
existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.
É uma coisa relativa ao passado e ao futuro.
É uma coisa que existe em virtude de outras coisas
existirem.
Eu quero só a realidade, as coisas sem presente.
Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero
pensar nelas como coisas.
Não quero pensar nas coisas como presentes; quero
pensar nelas como coisas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as
por presentes.
por presentes.
Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu não as devia tratar por nada.
Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.
(19/7/1920)
Alberto Caeiro / Fernando Pessoa
(1888 - 1935)
In "Os Cem Melhores Poemas Portugueses dos Últimos Cem Anos"
(Selecção e Organização de José Mário Silva)
(Selecção e Organização de José Mário Silva)
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