25 setembro 2023

Dos dias bons


Para a Marta.

Um olhar desatento (ou apenas um certo olhar) achará que este é um livro para crianças. Também é, mas não só da forma que muitos pensarão. O livro tem frases simples de entender e bonitas de ler; tem desenhos simples de entender e bonitos de ver. Nesse sentido é um livro para crianças - é simples e é bonito. Tem também uma pedagogia acertada - relembra a importância de olhar para a vida com um coração agradecido, como vem na contracapa. Numa altura em que as crianças crescem arredadas da frustração e da luta pelas coisas, esta pedagogia cai bem. 

Mas o livro, diria eu, detentor de outro certo olhar, é mais do que isso: é um livro para adultos. Talvez seja um livro para os adultos lerem alto às suas crianças ouvindo bem o que estão a dizer: às vezes um dia bom... é uma dor que se transforma em amor. Dizer esta frase em voz alta é importante, porque se não houver quem nos oiça talvez nunca tenhamos a certeza de tê-la dito. E se nunca a dissermos nunca saberemos como a frase ressoaria no nosso coração.

Este livro poderia ter sido escrito no remanso de uma sala criativa com vista para a imaginação. Seria sempre um livro bonito, simples e pedagógico. Acontece que o livro foi escrito no desafio do 7º piso do IPO de Lisboa, como é conhecida a ala das crianças com cancro. Um piso que, pela natureza do que lá se passa, não é convidativo ao agradecimento imediato. Pode-se agradecer, sim, mas requer um trabalho interior forte de descoberta do que de melhor temos dentro de nós. Às vezes um dia bom... é um (re)encontro. Talvez a descoberta luminosa seja o nosso (re)encontro com o agradecimento. 

Conheci a Marta quando fui com um grupo da Acreditar ao encontro do Papa. Sabia do seu caso por causa de uma ligação familiar não directa. A Marta e outras mães de que me vão falando (a Teresa, por exemplo, a quem fui apresentado ontem) são mães muito novas que enfrentam o desafio de um filho pequeno com cancro. Enfrentam-no com esperança e força, com um amor imbatível que alimenta a certeza de tempos melhores, com a convicção firme dos propósitos que se repetem. Às vezes um dia bom... é um sim que se renova.

Em meu nome, pelo gosto que tive de conhecer a Marta, mas também em nome da Acreditar, para a qual reverte uma parte deste livro, muito obrigado. Um agradecimento também à Livros Horizonte e à Sílvia Sacadura, editora. Setembro é o mês por excelência de sensibilização para o cancro pediátrico. Lembrá-lo com este livro é a certeza de um dia bom. Talvez mesmo muito bom. 

Obrigado, Marta (e também Carolina!), por dizer e pintar com palavras agradecidas o que muitos Pais pensam com o coração dorido. 

JdB

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