29 fevereiro 2024

Da censura

 


Encontrei estes dois documentos (são fotocópias) na Fábrica do Braço de Prata, onde estive há algumas semanas. Infelizmente não li o Vagão J, de Vergílio Ferreira, nem a Apresentação do Rosto, de Herberto Helder, que foi apreendido na sua quase totalidade pela PIDE em 1968 e só viria a ser reeditado em 2020, tornando-se um objecto de culto. Por isso, não consigo sequer imaginar o que seriam estas duas obras à luz da realidade social e política de 1947 e 1968. 

Por motivos que se prendem com a minha idade, e pelo meio não intelectual por onde a minha família e amigos circulava, a Censura disse-me pouco. É, para mim, um episódio histórico, mais do que uma manifestação da ditadura. Assim sendo, entretive-me a ler o que o Sr. Joaquim Palhares, leitor, e o Sr. Borges Ferreira, capitão, tinham a dizer sobre o assunto, e por que razão os livros não deveriam ser publicados. 

Confesso que estas notas da Censura me despertaram a curiosidade. Que o Herberto Helder é hermético não é novidade - e pelos vistos esta característica já tinha sido identificada pelo censor em 1948. Já Vergílio Ferreira, não sendo surrealista, privilegiava o asqueroso. 

JdB  


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