27 março 2011

3º Domingo da Quaresma

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

Num momento da Sua vida, Jesus Cristo pergunta aos discípulos: quem dizem as pessoas que Eu sou? Há uns anos, numa das reuniões da Equipa de Nossa Senhora de que eu fazia parte, debateu-se esta frase, e fomos todos desafiados a responder. Lembrei-me então - e contei esta história vezes sem conta - da morte do Álvaro Cunhal, e do que um militante comunista tinha deixado no livro de condolências do partido. A frase, expurgadas as óbvias conotações políticas reproduz, ainda hoje, o que eu penso: (camarada) conhecer-te mudou a minha vida.

É difícil contar-se esta história sem que possamos ser olhados com o mesmo incómodo desconfiado com que observamos as beatas de sacristia, os pseudo-místicos que rebolam os olhos junto a um desgraçado coração de jesus, ou aqueles que salivam com o aroma forte do incenso. Dizer esta frase é, para muitos que nos rodeiam, um pouco ridículo, porque se espera que a profiramos a uma mulher - de preferência num âmbito romântico, sob um céu estrelado, uma música suave e um cocktail de cores exóticas.

Mas, de facto, conhecer Jesus Cristo - o que Ele disse e fez, os desafios que nos lança - é mudarmos a nossa vida, a forma como nos relacionamos com os outros, como estendemos a mão aos necessitados, como respondemos ao insulto, como enfrentamos as agruras da vida, como usamos os nossos talentos, como gerimos a nossa consciência, como desvalorizamos a grandeza em detrimento da inteireza, como e como e como...

Ao contrário do que fala o fado, entre esta plebeia de Sicar (é revelador não se saber o nome dela, como se ela não fosse mais do que todos nós) e Jesus Cristo não há nenhuma tensão amorosa, nem consta que se tenham beijado junto à fonte de Jacob. Mas o impacto que Ele lhe causou foi tanto que ela terá dito: (mestre) conhecer-te mudou a minha vida.

Bom Domingo para os que me lêem.

JdB


EVANGELHO – Jo 4,5-42

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
chegou Jesus a uma cidade da Samaria, chamada Sicar,
junto da propriedade que Jacob tinha dado a seu filho José,
onde estava a fonte de Jacob.
Jesus, cansado da caminhada, sentou Se à beira do poço.
Era por volta do meio dia.
Veio uma mulher da Samaria para tirar água.
Disse lhe Jesus: «Dá Me de beber».
Os discípulos tinham ido à cidade comprar alimentos.
Respondeu Lhe a samaritana:
«Como é que Tu, sendo judeu,
me pedes de beber, sendo eu samaritana?»
De facto, os judeus não se dão com os samaritanos.
Disse lhe Jesus:
«Se conhecesses o dom de Deus
e quem é Aquele que te diz: ‘Dá Me de beber’,
tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».
Respondeu Lhe a mulher:
«Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo:
donde Te vem a água viva?
Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob,
que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu,
com os seus filhos a os seus rebanhos?»
Disse Lhe Jesus:
«Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede.
Mas aquele que beber da água que Eu lhe der
nunca mais terá sede:
a água que Eu lhe der tornar se á nele uma nascente
que jorra para a vida eterna».
«Senhor, suplicou a mulher dá me dessa água,
para que eu não sinta mais sede
e não tenha de vir aqui buscá la».
Vejo que és profeta.
Os nossos pais adoraram neste monte
e vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar».
Disse lhe Jesus:
«Mulher, podes acreditar em Mim:
Vai chegar a hora em que nem neste monte
nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que não conheceis;
nós adoramos o que conhecemos,
porque a salvação vem dos judeus.
Mas vai chegar a hora – e já chegou –
em que os verdadeiros adoradores
hão de adorar o Pai em espírito a verdade,
pois são esses os adoradores que o Pai deseja.
Deus é espírito
e os seus adoradores devem adorá l’O em espírito e verdade».
Disse Lhe a mulher:
«Eu sei que há de vir o Messias,
isto é, Aquele que chamam Cristo.
Quando vier há de anunciar nos todas as coisas».
Respondeu lhe Jesus:
«Sou Eu, que estou a falar contigo».
Muitos samaritanos daquela cidade acreditaram em Jesus,
por causa da palavra da mulher.
Quando os samaritanos vieram ao encontro de Jesus,
pediram Lhe que ficasse com eles.
E ficou lá dois dias.
Ao ouvi l’O, muitos acreditaram e diziam à mulher:
«Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos.
Nós próprios ouvimos
e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».

1 comentário:

Maf disse...

João, a magia do verdadeiro encontro com Cristo é exactamente essa ... a nossa vida nunca mais é a mesma. Há como que um bichinho que entra em nós e nos leva sempre mais além, nos desinstala e nos desinquieta.
Bom domingo.
Maf

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