Junto ao Tejo vale a pena visitar o MUSEU DO ORIENTE(1) que, além do acervo permanente, tem um par de exposições temporárias patentes até Abril-Maio, que sabem a uma viagem ao coração da Ásia. Para começar bem os fins-de-semana, às Sextas o Museu só fecha às 22h00 e a partir das 18h00 a entrada é livre.
Aqui vai uma proposta de circuito, que se estenderá por dois gins:
I) Telas ao vento
II) Viagens de artistas
(próximo gin)
III) Arte oriental inspirada nos Portugueses
IV) Etapa experimental
I) TELAS AO VENTO (até 10 de Abril)
Os bonitos «PAPAGAIOS DA CHINA» enchem de cor a sala onde estão expostos, além de animarem o tecto do átrio da entrada, pendendo em formas luminosas e esvoaçantes. Aliás, este gin será especialmente visual, porque aqui as imagens valem por mil palavras:
Recuando aos séculos VII-IV A.C., nasceram como esboço de um sonho de transporte aéreo, apenas subsistindo enquanto lenda, sem qualquer confirmação de artefactos bem sucedidos na aviação. Ainda assim, no Museu Aeroespacial de Washinghton são exibidos como vestígios das primeiras experiências aeronáuticas. Muitos têm incorporados hélices e outros engenhos que os tornam mais articulados e aptos a ganhar velocidade, mal sejam tocados pelo vento, de modo a ascenderem e a deslocarem-se como uma seta, seguindo um rumo relativamente controlado.
Adquiriram depois uma função militar no envio de mensagens entre regimentos algo distantes. Somaram ainda uma virtualidade meteorológica, servindo para a medição da força dos ventos. Acrescentaram mais tarde o som, tomando formas arrevesadas para aperfeiçoar o efeito de apito, que se fazia ouvir a mais de um quilómetro de distância.
A sua qualidade artística tornou-os enfeites festivos, por excelência, com a dupla função de pressagiar o futuro. A superstição a eles associada assumiu tais proporções, que eram lançados em eventos oficiais ou a antecipar viagens importantes, num exercício de futurologia levado muito a sério pelas populações japonesa e chinesa. Um voo demasiado raso de um destes papagaios bastava para fazer adiar, por um ano, a partida de um navio. Nenhum romance se atrevia a avançar sem ver lançadas as sortes traçadas no voo imprevisível do papagaio içado ao céu.
Uma criança que nascia devia ser abençoada pelos papagaios de motivos pueris, sugeridos pelas narrativas ancestrais, como o do menino montado sobre o animal mais majestoso e auspicioso da tradição chinesa – o tigre branco.
Seguindo o paradigma das civilizações antigas, os motivos encontravam inspiração nas lendas milenares, fortemente enraizadas na história do país, além da fauna e da flora, que oferecem uma exuberância cromática de enorme impacto visual, conforme se pretende(2).
Quando surgiu a moda de oferecer papagaios (séc. XVII), aumentou a variedade e a carga simbólica das inúmeras figuras. Aos poucos, conquistaram um lugar de honra na prosa e na poesia, inaugurando um diálogo ininterrupto com a literatura. O seu valor artístico, imanado da tradição popular, criou uma simbiose enriquecedora entre os artesãos e os artistas.
Gerações de artífices celebrizaram-se nos diversos cantões do Império do Meio, fabricando desde há séculos as bonitas telas de seda endurecida e aplicada sobre uma teia de canas de bambu ou de madeira, que lhes confere uma estrutura dançante, extremamente decorativa.
A partir do século X, o espírito mercantilista chinês disseminou a moda dos papagaios pelos países vizinhos. Na festividade chinesa do nono dia da nona lua, milhões de papagaios sobem aos céus para levar com eles os problemas. A imensidão de telas flutuantes quase eclipsam o sol, formando uma nuvem espessa e multicolor a ziguezaguear pelas alturas:
Festival ao som da música oriental (Bornéu)
II) VIAGENS DE ARTISTAS
Antes de seguir para o andar de cima – onde nos espera a arte Namban – pode dar-se um salto à pequena mostra colectiva de pintores portugueses, que reúne os testemunhos de passagens por: Timor, Japão (nas fotografias de José de Guimarães), Indonésia, Índia, etc. Breves álbuns que visam actualizar o olhar português sobre terras longínquas.
No entendimento de Helena Vieira da Silva, ali citada, os diários de bordo modernos deveriam acumular a dupla visão da pintura e da literatura, para se obter um registo plural e de maior abrangência. Não duvido de que a fórmula para reviver uma viagem tempos depois é, com toda a certeza, dos desafios mais interessantes para a memória!
No próximo gin, exploraremos outros espaços do Museu, concluindo com uma nota sobre o terramoto no Império do Sol:
JAPÃO devastado
Vale uma palavra de solidariedade para o país que parece ter «caído de pé», no dizer de muitos, após o sismo brutal de 11 de Março, a rasar o limite da escala de Richter. A ponto de o eixo da terra se ter desviado 25cm, a rotação da terra ter sofrido uma aceleração encurtando os dias em 1,6 microssegundos e o país se ter deslocado c. 2,4 m. A colecção de fotografias de satélite do New York Times permite uma comparação muito expressiva do Japão antes e depois do abalo sísmico (convém deslizar a régua central para alterar os tamanhos das duas metades das imagens, correspondentes ao que era e o que ficou), onde a natureza arrasou a mais avançada tecnologia humana, em breves segundos:
No próximo Sábado (2 de Abril), das 10h30-19h30, o Palácio Foz tem uma programação cultural a favor das vítimas do sismo e do tsunami, com peças de arte nipónica e filmes: http://amazinglittlestuff.blogs.sapo.pt/38054.html.
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) MUSEU DO ORIENTE - www.museudooriente.pt
Morada - Av. Brasília, Doca de Alcântara (Norte). Tel. 21.3585244
ENTRADA LIVRE NAS TARDES DE SEXTAS, DAS 18h ÀS 22h00.
(2) COLECÇÃO DE MODELOS TRADICIONAIS de PAPAGAIOS CHINESES:
http://www.youtube.com/watch?v=qt6_NDNm-bM&feature=related
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