Passei três anos da minha vida na Foz do Douro, na zona
velha, de ruelas estreitas e húmidas e muito encanto e personalidade. Aconteceu
no início da década de 80, numa época em que o trabalho escasseava e os bolsos
se ressentiam. Por isso fui para Norte, que na altura, apesar de tudo, oferecia
mais possibilidades de emprego que Lisboa ou Setúbal. Foi igualmente um tempo
de despreocupação, palavra cara ao meu amigo e dono deste estabelecimento, e de
algum folguedo.
Quando vejo os assustadores números dos principais
indicadores económicos actuais, como o da percentagem de desemprego das pessoas mais
novas, não posso deixar de pensar nesses tempos também difíceis do começo da
minha vida profissional, e na sorte e nas oportunidades que apesar de tudo me foram
dadas. Tenho a sensação de que, nessa época anterior à nossa adesão à então
CEE, o país tinha dificuldades, mas estava menos “esgotado” do que agora, havia
ainda caminhos a percorrer e a explorar que actualmente tenho dificuldades em
vislumbrar. Deve ser da idade! Será que as novas gerações só terão
oportunidades idênticas às que tive se saírem daqui? Parece cada vez mais que
sim, e sinceramente tenho pena.
O mar da Foz é magnífico, bravio e forte. Lembro-me por
exemplo do “gilreu”, um rochedo grande e isolado, situado bem em frente à
marginal a uns bons metros da costa, e da praia do homem do leme, com as suas
muitas rochas escorregadias, a escassa e grossa areia e a água gélida. E do
Passeio Alegre ou do Castelo do Queijo!
Por isso escolhi estas duas músicas, uma de uma grande
banda nortenha que acompanha um vídeo com imagens sugestivas dessa costa que
vai da foz do Douro a Matosinhos, a outra que tem o nome da praia de que falei
e que é, para mim e de longe, a melhor música dos X&P.
Espero que gostem das músicas e que vão à Foz quando
estiverem lá perto!
fq
5 comentários:
Grandes tempos esses da Foz. Era um tempo em que o Porto prometia efectivamente tudo. Até música.
Nao acho que seja a CEE a diferenca, mas sim a forma como estes jovens foram educados - so facilidades, so possibilidades, crescimento sem fim, sentido de que todas estas coisas boas (dinheiro, telemoveis, viagens, tempo livro) lhes sao devidas. Os jovens adultos dos anos 80 vinham com ensinamentos mais duros.
A Foz, acho que já o disse aqui, é o sítio mais giro de Portugal para se morar. Tudo os sítios que disse são o máximo, mas.... e a Praça de Liége e o seu jardim central? E as casas burguesas, "folheadas" a azulejos rectangulares verdes ou encarnados com óptimos jardins para trás (que me lembram imenso os ingleses)? E a Rua do Teatro? E os carvalhos cheios de folhas nas ruas para trás da Av. do Brasil? E o nevoeiro cerrado (que quase já não há)? E o vaguíssimo sotaque, aquele terminar de frases das pessoas bem educadas do Porto? Adoro! Não podia ter escolhido tema que me seja mais querido. Obrigada, fq. pcp
Ah, o Porto, o Porto, essa nação.
Conheço mal a cidade mas, do que conheço, gosto. Tive lá momentos de inolvidável prazer, como sabes.
Música a condizer, se bem que nã aplicasse o adjectivo (ou adverbio) inolvidável.
Duas frentes que se cruzam - a dificuldade e o Norte deste pais à beira mar plantado.
Gente jovem sem perspectivas, educados por pais que fizeram de tudo para lhes dar de tudo e um mundo de micro empresas nortenhas mal geridas por gente empreendedora e corajosa mas onde abunda a iliteracia e a falta de inovação.
Mais dois momentos que se cruzam, a abertura ao mundo, a fuga e a emigração ou a mobilidade interna valorizando o que é nosso e explorando as nossas potencialidades.
GNR e X&P são nossos e falam de nós e ficaram por cá. Valorizemos então, porque o merecem.
Belíssima escolha e acima de tudo belíssimo o pensamento e a motivação que levaram à escolha.
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