21 fevereiro 2012

Duas últimas


Passei três anos da minha vida na Foz do Douro, na zona velha, de ruelas estreitas e húmidas e muito encanto e personalidade. Aconteceu no início da década de 80, numa época em que o trabalho escasseava e os bolsos se ressentiam. Por isso fui para Norte, que na altura, apesar de tudo, oferecia mais possibilidades de emprego que Lisboa ou Setúbal. Foi igualmente um tempo de despreocupação, palavra cara ao meu amigo e dono deste estabelecimento, e de algum folguedo.

Quando vejo os assustadores números dos principais indicadores económicos actuais, como o da percentagem de desemprego das pessoas mais novas, não posso deixar de pensar nesses tempos também difíceis do começo da minha vida profissional, e na sorte e nas oportunidades que apesar de tudo me foram dadas. Tenho a sensação de que, nessa época anterior à nossa adesão à então CEE, o país tinha dificuldades, mas estava menos “esgotado” do que agora, havia ainda caminhos a percorrer e a explorar que actualmente tenho dificuldades em vislumbrar. Deve ser da idade! Será que as novas gerações só terão oportunidades idênticas às que tive se saírem daqui? Parece cada vez mais que sim, e sinceramente tenho pena.

O mar da Foz é magnífico, bravio e forte. Lembro-me por exemplo do “gilreu”, um rochedo grande e isolado, situado bem em frente à marginal a uns bons metros da costa, e da praia do homem do leme, com as suas muitas rochas escorregadias, a escassa e grossa areia e a água gélida. E do Passeio Alegre ou do Castelo do Queijo!

Por isso escolhi estas duas músicas, uma de uma grande banda nortenha que acompanha um vídeo com imagens sugestivas dessa costa que vai da foz do Douro a Matosinhos, a outra que tem o nome da praia de que falei e que é, para mim e de longe, a melhor música dos X&P.    

Espero que gostem das músicas e que vão à Foz quando estiverem lá perto!
  
fq




5 comentários:

JdC disse...

Grandes tempos esses da Foz. Era um tempo em que o Porto prometia efectivamente tudo. Até música.

Luiza Azancot disse...

Nao acho que seja a CEE a diferenca, mas sim a forma como estes jovens foram educados - so facilidades, so possibilidades, crescimento sem fim, sentido de que todas estas coisas boas (dinheiro, telemoveis, viagens, tempo livro) lhes sao devidas. Os jovens adultos dos anos 80 vinham com ensinamentos mais duros.

Anónimo disse...

A Foz, acho que já o disse aqui, é o sítio mais giro de Portugal para se morar. Tudo os sítios que disse são o máximo, mas.... e a Praça de Liége e o seu jardim central? E as casas burguesas, "folheadas" a azulejos rectangulares verdes ou encarnados com óptimos jardins para trás (que me lembram imenso os ingleses)? E a Rua do Teatro? E os carvalhos cheios de folhas nas ruas para trás da Av. do Brasil? E o nevoeiro cerrado (que quase já não há)? E o vaguíssimo sotaque, aquele terminar de frases das pessoas bem educadas do Porto? Adoro! Não podia ter escolhido tema que me seja mais querido. Obrigada, fq. pcp

JdB disse...

Ah, o Porto, o Porto, essa nação.
Conheço mal a cidade mas, do que conheço, gosto. Tive lá momentos de inolvidável prazer, como sabes.
Música a condizer, se bem que nã aplicasse o adjectivo (ou adverbio) inolvidável.

Ana CC disse...

Duas frentes que se cruzam - a dificuldade e o Norte deste pais à beira mar plantado.
Gente jovem sem perspectivas, educados por pais que fizeram de tudo para lhes dar de tudo e um mundo de micro empresas nortenhas mal geridas por gente empreendedora e corajosa mas onde abunda a iliteracia e a falta de inovação.
Mais dois momentos que se cruzam, a abertura ao mundo, a fuga e a emigração ou a mobilidade interna valorizando o que é nosso e explorando as nossas potencialidades.
GNR e X&P são nossos e falam de nós e ficaram por cá. Valorizemos então, porque o merecem.
Belíssima escolha e acima de tudo belíssimo o pensamento e a motivação que levaram à escolha.

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