Ao ritmo da Yessian
Music, «FLYING OVER AMERICA» percorre em minutos os EUA, transmitindo toda a
modernidade e brio patriótico que se cultiva do lado de lá do Atlântico.
Sobre a América e a sua
hegemonia civilizacional através do cinema discorria há dias Eduardo Lourenço(1), numa
entrevista onde sublinhou o impacto da produção de Hollywood para a cultura
hodierna. Algo redutor, mas ainda assim q.b. interpelativo:
«Até que ponto é americano?
Sou americano pela influência que em todas as coisas teve sobre mim o
cinema. É, certamente, a arma mais eficaz e extraordinária que a humanidade
produziu para impor um modelo, um comportamento, de uma parte mínima dela, de
uma pequena elite concentrada. Hollywood é o resultado de uma gente que veio de
sítios precisos da Europa e ali inventaram uma máquina de divertimento
irresistível. É a maior máquina de publicidade e de publicidade política.
Propaganda?
Sim. Teve eficácia porque os valores defendidos encontraram eco. A França (…)
inventou o cinema, que foi levado para os EUA. Não é por acaso que o primeiro
grande filme produzido em Hollywood foi «O Nascimento de Uma Nação». O Homero
dessa nova cultura mundial foi o cinema e o assunto são os próprios EUA. Sem
cessar, os EUA estão a ser reinventados nas suas diversas figurações de país,
mesmo cheio de problemas, mas há sempre um discurso sobre isso. A grande
invenção dos EUA foi a própria mitificação muito importante como fundadora. As
imagens funcionam sem cessar.(…) Eles podem fazer isso porque acreditam realmente
nisso. (…)
O cinema tem uma lógica interna, chega a todo o lado. É como a Coca-Cola,
se consumirmos ficamos aditos. (…) (É) uma coisa de uma popularidade intensa
porque (é) participada. As pessoas reúnem-se para celebrar qualquer coisa. Não
é preciso que ninguém nos venha pregar nada. E o facto de o prazer que se tem
nisso ser uma resposta a um problema, talvez o mais sério da humanidade: o
tédio.»
Embora as observações
do filósofo português apenas realcem a vertente lúdica da sétima arte – que
está bem longe de esgotar o alcance profundíssimo do cinema – têm a graça de
assinalar a repercussão do produto mais internacional dos Estados Unidos,
atingindo os lugares mais recônditos do mundo.
Voltando à viagem em avioneta
(com o link no final), percorremos num voo rasante o caleidoscópio de paisagens
que compõem a super-potência desta época.
Começamos em Manhattan,
num travelling de aproximação à estátua da Liberdade – símbolo maior da pátria
do melting pot, onde tantos
emigrantes encontraram um porto de abrigo e uma nova oportunidade para singrar
na vida. Para a maioria, o primeiro embate em terras do tio Sam foi,
precisamente, à vista desta enorme figura de pedra empunhando um facho
luminoso. Aliás, logo a seguir ao célebre 11 de Setembro (2011), a net foi
invadida de cartoons com este ícone de
Manhattan, que personifica os
princípios fundadores da nação. Bem poderia ser o próximo alvo dos terroristas:
Depois, sobrevoamos a
capital política – Washinghton D.C. Seguem-se as montanhas com as célebres
figuras dos primeiros presidentes americanos esculpidas na rocha, numa versão
ultramoderna das esfinges dos faraós.
Avançamos, em seguida, para
o Mississipi, onde ainda hoje se respira o ambiente maravilhosamente narrado
por Mark Twain nas incansáveis aventuras de Tom Swayer.
Chegados aos grandes
canyons, esgueiramo-nos por aquelas gargantas estreitas de terra encarniçada e
árida, onde os cowboys precisavam de ser
mais rápidos do que a própria sombra. Nos antípodas estão os picos de neve,
algures em Vermont ou na célebre estância de sky de Aspen, ou na montanha mais
alta do país – a atracção dos alpinistas que apreciam o risco – o McKinley.
Concluímos a sobrevoar Las
Vegas, entre arranha-céus arrojadíssimos e uma réplica da Torre Eiffel num
ambiente urbanístico de vanguarda, pouco a ver com Paris ou as demais
metrópoles europeias, que respiram muitos séculos de história.
Vale a pena a viagem
por esta nação que reúne povos e costumes de muitas origens, como mosaico, em
ponto mais pequeno, da imensa diversidade que habita o planeta:
Maria Zarco
(a preparar o próximo gin tónico,
para daqui a 2 semanas, numa Segunda)
_____________
(1) «Sou um nómada», por
Isabel Lucas, Montepio, nº 7,
série II, Lisboa, Outono de 2012, pp. 32-38.
2 comentários:
No texto: se consumirmos ficamos aditos.
Antigamente, quando queriamos alardear coltura, faziamos citações em francês; agora vão buscar-se palavras que não precisamos, tais como eventos, etc.
Por que não dizer viciados?
Possidoneira.
SdB(I)
Sim, é um anglicismo "descarado", mas é o preço da exposição às outras línguas... A evolução da língua tem esta origem, desde sempre, só que hoje dá-se a uma velocidade mais alucinante, pela maior comunicabilidade além-fronteiras. Quem não usa expressões latinas ou galicismos correntes como "avant la lettre", só para referir as mais frequentes?... A somar às influências externas comuns, o Eduardo Lourenço (citado nessa expressão) ainda acrescenta o facto de viver em França e estar casado com uma francesa, com menos proximidade com o português. Enfim, isto é só uma achega. MZ
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