Astrometeorologia
No dia em que
estou a escrever este post está a
chover a potes. Chamam a esta tempestade Ruth, a anterior foi baptizada
Hercules, mas o sentimento da maioria dos portugueses é expresso por Mafalda:
Antes de haver
Instituto Meteorológico, Weather Channel, Windguru, etc., a previsão do tempo
era feita pelos Almaques. Na minha secretária está um deles: “O Verdadeiro
Almanaque Borda d’Água” publicado em Portugal desde 1929, que contém indicações
para os agricultores, características dos signos do zodíaco, dias dos Santos,
feiras populares e também previsões meteorológicas.
Os Almaques
têm a sua origem na astronomia babilónica, mas o mais antigo almanaque com o
formato “moderno” foi elaborado em Toledo em 1088 pelo “cientista” árabe Ibn
Zarqala contendo indicações das posições planetárias. Ao longo dos séculos
foram sendo publicados almanaques para marinheiros, para agricultores e para astrólogos.
Nos Estados
Unidos, no séc. XVIII, o Poor Richards Almanack era publicado pelo famoso
Benjamin Franklin. A capa indica que continha informação sobre Lunações,
Eclipses, Previsão do Tempo, Orbitas e Aspectos planetários, etc..
Voltando ao
nosso Borda d’Água, na página de Fevereiro a previsão do tempo para a semana que
começou a 6 de Fevereiro é Vento e trovoadas. As previsões são
feitas nos dias em que a Lua entra numa fase (Nova, Quarto Crescente, Lua
Cheia, e Quarto Minguante).
Numa linguagem
moderna chama-se astrometeorologia a esta parte do Almanaque que utiliza a
astrologia para a previsão do tempo. Não sei como Ben Franklin fazia as suas previsões,
nem como são feitas as do Borda d’Água, mas estudei astrometeorologia com uma colega
americana, Carolyn Egan (www.weathersage.com) que tem dedicado a sua vida ao estudo da previsão
climática por métodos astrológicos.
Funciona
assim: os planetas têm qualidades de temperatura, humidade e vento que se
encaixam dentro do arquétipo do planeta. Algumas delas chegam-nos da astrologia
medieval. Resumidamente, o Sol, a nossa fonte de energia, e Marte, o planeta vermelho
são quentes e secos, a Lua fria e húmida, Mercúrio frio, seco e ventoso, Vénus,
o planeta benéfico, reflecte uma temperatura moderada mas húmida, Júpiter, o
outro planeta benéfico é quente e húmido e Saturno, o grande maléfico é
considerado frio e seco mas associado com sistemas de baixa pressão, o que pode
enganar pois os sistemas de baixa pressão trazem chuva. Úrano está ligado a situações
de instabilidade, Neptuno ao nevoeiro e quedas de água e Plutão intensifica as
energias dos planetas em que toca.
Os signos
também têm as suas características e, com base nesta chave interpretativa, analisa-se
primeiro a carta do solstício ou do equinócio precedentes. Esta carta dá-nos o
quadro de fundo dessa estação. Neste
caso a estação que estamos a atravessar é vista através da carta do momento em
que o sol entrou em Capricórnio, no dia 21 de Dezembro de 2013. Seguidamente
elaboram-se as cartas de cada semana para o momento da lunação.
A interpretação
das cartas inclui regências, aspectos, ângulos, é muito técnica e, na verdade, nunca fiquei uma verdadeira “expert”, mas as primeiras coisas que me saltaram aos olhos na carta do solstício foram:
a) Vénus não
faz qualquer aspecto com os outros planetas pelo que o seu efeito moderador
está limitadíssimo.
b)Úrano, o
planeta das tempestades, está em aspecto com Marte e Plutão que ampliam a sua
instabilidade.
Destes dois
factos já temos ampla experiencia. E o que nos reserva a semana que vem?
A carta da próxima
lunação é a da lua cheia de 14 de Fevereiro. Aqui Marte está numa posição
importante, conjunto e regendo o ascendente mas com aspectos suaves e os dois benéficos,
Vénus e Júpiter, estão em aspecto um com o outro. Esta carta não substitui a do
solstício mas dá-nos razão para optimismo.
O Borda d’Água
está de acordo e indica Bom Tempo
para a semana que começa no dia de S. Valentim. Mas mesmo assim, em vista da
carta do início do Inverno, convêm não esquecer o guarda-chuva em casa.
Luiza Azancot
2 comentários:
Impressionante mas faz todo o sentido. Aconselho a leitura do editorial do borda de água. Lembras te que no ano passado houve um rumor sobre a possibilidade do verão mais frio de sempre. Consultei o almanaque que dizia exactamente o contario. E não é que o verão foi espectacular?
"Se a Nossa Senhora das Candeias estiver a rir está o Inverno para vir, se estiver a chorar está o Inverno a passar"
Uma versão popular, poética e ancestral da previsão meteorológica
É sempre um gosto passar pelo "Adeus até ao meu regresso"
Um grande xi coração
João Diogo
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