Rose 5, fotografia de JMAC, o homem de Azeitão |
Se voltasses atrás muitos anos, que ofício gostarias de ter?
A pergunta é-me feita de chofre, se bem que o tema viesse a decorrer há largos minutos. Somos quatro de volta de um carro, naquele momento que antecede as despedidas mas onde ainda reverbera uma conversa de fim de jornada. Estou mais próximo dos 57 anos do que dos 56, pelo que já ninguém quer saber o que gostaria de ser quando fosse grande. Na melhor das hipóteses indagam, face à minha certeza de uma engenharia tirada por motivações ínvias, que curso frequentaria se recuasse quase quatro décadas.
Se voltasses atrás muitos anos, que ofício gostarias de ter?
Ninguém quer saber se teria escolhido história, literatura, a academia militar. Querem saber do ofício, do mister: motorista de camiões tir, maquinista de comboio, amanuense, sapateiro, relojoeiro, fiel de armazém. A visão mais comezinha da pirâmide profissional, uma vida desprovida de títulos, de sim senhor doutor, de diplomas, de cartas de curso, de dá-me um prazo, senhor engenheiro?, de reuniões ao mais alto nível. Em última análise, a vocação mais funda, não afectada pelo desejo de poder ou de influência, pelo gosto de um carro que passa nas portagens sem angústias de despesa própria.
O desafio é interessante: o que teríamos sido se a vida fosse mais despojada, menos sujeita aos focos de terceiros - ou ao nosso próprio foco? Quereríamos ter curados os enfermos, construído pontes ou comandado exércitos? Ou o nosso anseio era o de olhar silenciosamente o mecanismo de um relógio, guiar um camião que cruza fronteiras e montanhas, ordenar com zelo matérias primas num armazém crivado de prateleiras arrumadas?
Não sei o que significa pensar nisto. Será um fait divers, um entretém para mentes desocupadas ou, pelo contrário, uma viagem ao nosso íntimo mais simples e, por isso, mais difícil de alcançar? Face à pergunta duplicada em itálico no texto, o que respondemos? Motorista de camião tir, fiel de armazém... E o que fazemos com a resposta?
JdB
1 comentário:
Ofícios para quando for grande ou para ser Grande ?.
Au revoir lá-haut.
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