07 outubro 2016

Os sons do silêncio - ontem e hoje

Com o título "primeiro estranha-se, depois entranha-se", mão amiga enviou-me o youtube que apresento abaixo.



Como muito ser humano, tenho com a mudança uma relação nem sempre pacífica. Se algumas coisas gosto de mudar, outras mudanças mexem comigo, enervam-me, põem-me tenso e inseguro. São mudanças de hábitos, de locais, de rotinas, de grupos sociais ou profissionais. Diria, em abono da verdade, que sou um conservador - nalguns casos gosto de me conservar como estou e onde estou.

Com a música não há insegurança nem tensão - talvez haja apenas estranheza, sobretudo se aquilo de onde parto me é favorável aos sentidos. Gosto muito de Bach e, no entanto, gosto muito de Play Bach, um género (?) criado pelo magistral Jacques Loussier. A diferença é substantiva, mas original e variação encantam-me por igual. Não acontece o mesmo com alguns fados que ouvi uma vida inteira cantados magistralmente por alguém. Aparece uma variação e aquilo é uma espécie de ferida mais ou menos profunda no ouvido. Como diria um famosos guitarrista, já está tudo inventado no fado, não vale a pena fazer mais variações sobre o que quer que seja.  

Desde que os ouvi pela primeira vez - e já lá vão umas décadas - que sou fã (quase) incondicional de Simon & Garfunkel e, posteriormente, mais do Simon do que do Garfunkel. Não sendo entendido, conheço-lhes muitas músicas. Por outro lado, conheço quase de cor o mítico concerto no Central Park, até porque estava com amigos em Nova Iorque dias antes, e essa falha de timing (não havia internet na altura...) foi importante: sei quando há palmas da assistência, sei de algumas alterações de letras, sei quando o Garfunkel se engana e sei quando o nome do então presidente da Câmara local é vaiado pela multidão. Também conheço, por isso - e praticamente de cor - o Sound of Silence e localizo bem as duas manifestações da assistência, sobretudo quando ambos afirmam que the words of the prophets are written on the subway walls



Não gosto da versão que mão amiga me mandou. Não sei se não gosto em termos absolutos, se em termos relativos. Gostaria se ouvisse a música pela primeira vez? Não sei. Não gosto porque tenho a outra versão, a original, agradavelmente presente na memória? Talvez. Deveria fazer um esforço de análise ou de disponibilidade auditiva? Seguramente.

Oiçam e decidam. Eu, cá por mim, vou deliciar-me com as ovações que começam e acabam onde sei que começam e acabam. Sou um conservador, de facto. E às vezes um maçador, como pensará quem me mandou o vídeo.

JdB

3 comentários:

Anónimo disse...

Magister dixit


Anónimo disse...

O elogio à dupla S&G justificou o comentário anterior. Não é uma ironia, é uma merecida proclamação.
Quanto ao mais, talvez haja uma nuance, a «obra» do «Disturbed» não é uma versão, mas sim um arranjo, variação, musical e vocal que é e se pretende disruptivo com a partitura original
Porque digo isto ?, porque não posso estar mais de acordo com JdB, no que respeita a ser conservador e «detestar» as mudanças. Mas, neste caso, não há mudança. As obras não são comparáveis por nada terem de comum, além de uma partitura base. Por isso, o que há é um (in)diferente novo.

Anónimo disse...

Só quem é/está de facto "disturbed" para fazer esta versão. Não tenho aversão à mudança, mas às vezes não é preciso dar tanto. mfm

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