Senhor Juiz... o meu filho
Não me bateu nem roubou
Com alguém já disse aqui;
Tropecei num empecilho
E ele até me levantou
No momento em que caí
Não tem profissão marcada
Mas na sua triste rota
Mal ou bem lá se governa
E nunca me exigiu nada
Para perder na batota
Ou p’ra gastar na taberna
É mentira o que se diz!
Este arranhão sem valor
A marcar o meu desgosto
Não chega a ser cicatriz
É uma ruga maior
Entre as rugas do meu rosto
Senhor juiz... eu sou mãe
E juro que o meu menino
Não me roubou nem bateu
O cadastro que ele tem
Traduz o negro destino
Da sorte que deus lhe deu
Neste conto se adivinha
Mercê de frases tão frias
O destino dum ladrão
E o drama de uma velhinha
Que passa todos os dias
A caminho da prisão
Versos de Carlos Conde
***
Janela da Vida
Para ver quanta fé perdida
E quanta miséria sem par
Há neste orbe, atroz ruím
Pus-me à janela da vida
E alonguei o meu olhar
P´lo vasto Mundo sem fim.
Vi dar aos ladrões valores
E sentimentos perdidos
Nas que passam por honradas
Vi cinísmos vencedores
Muitos heróis esquecidos
E vaidades medalhadas
Vi no torpor mais imundo
Profundas crenças caíndo
E maldições ascendendo
Tudo vi neste Mundo
Vi miseráveis subindo
Homens honrados descendo
Esse é rico, e não tem filhos
Que os filhos não dão prazer
A certa gente de bem
Aquele tem duros trilhos
Mas é capaz de morrer
P´los filhinhos que tem
Esta é rica em frases ledas
Diz-se a mais casta donzela
Mas a honra onde ela vai
Aquela não veste sedas
Mas os garotitos dela
São filhos do mesmo pai
Por isso afirmo com ciso
Que p´ra na vida ter sorte
Não basta a fé decidida
P´ra ser feliz é preciso
Ser canalha atá à morte
Ou não pensar mais na vida.
Versos de Carlos Conde
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