Há cerca de 20 anos, talvez, fomos com os dois filhos mais velhos a Londres. Um dia desafiaram-me para ir jantar KFC, algo que nunca tinha experimentado e que, em abono da verdade, não sabia bem o que era. Impus uma condição preguiçosa: a de não ir para uma fila, pelo que me sentaria numa mesa e eles trariam o almoço. Quando o tabuleiro chegou limitei-me a perguntar: e onde estão os talheres? A risota foi geral e a gordura escorreu abundantemente pelos dedos das mãos.
Dois anos depois, talvez (não me lembro das datas certas) via-se muito o Rei Leão lá em casa. A minha filha mais nova via o filme, rebobinava a cassette (era o tempo do VHS) e via o filme outra vez; e outra vez e outra vez... Via-se muito Rei Leão, falava-se muito de Rei Leão e as memórias que todos temos dela também passam por esse filme.
Ontem fomos com três raparigas que me são próximas (10, 10 e 14 anos) a um programa familiar: jantámos KFC seguido do Rei Leão em 3D. Não tive de ir para a fila encomendar o jantar, voltei a perguntar, por graça, onde estavam os talheres e a gordura escorreu-me abundantemente pelos dedos, tal como tinha acontecido há 20 anos. E voltei a encantar-me, sobretudo pelas memórias, com o Rei Leão, com a história, as músicas, a mensagem, a tecnologia.
Ontem recuei 20 anos, mais ou menos. Num certo sentido o mundo era mais perfeito e, num certo sentido também, poderia lembrar-me de Pessoa, quando ele dizia "eu era feliz e ninguém estava morto." Ontem recuei 20 anos, levado pelo frango gordurento, pelo Timon, pelo Simba, pelo Zazu e outros personagens que fazem parte - ainda que forçosamente pequena - do meu ciclo da vida. Por isso este post lembra as pessoas que povoam essas minhas lembranças, em particular os meus filhos.
JdB
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