Almoço com uma grande amiga, com quem não estava há muito tempo. Falamos de tudo: de livros, de política, do rei Jun Carlos, dos filhos de ambos, de amigos comuns, de projectos próprios. A casa é muito simpática (tem uma escala humana, diz ela) com uma sala para um alpendre por onde passam pássaros diversos. Pela casa dois cães; um deles, um galgo pequeno, anicha em cima do sofá com a dona, manso e feliz.
Durante três horas falamos de tudo, repito: das alegrias mas também das tristezas, do que nos foi correndo bem e mal ao longo da vida. Trago um livro autografado, dois livros oferecidos e sugestão de outros dois. Às tantas, falando dos problemas de alguém, refere: sabes, tudo isto são problemas do primeiro mundo, dificilmente abrem telejornais... É bem verdade, muitos daquilo que nos maça são maçadas de mundos ricos.
Chego a casa e vejo o telejornal e o drama de Beirute. Ontem ainda, na ressaca da explosão, recebo notícias de pessoas que lidavam com crianças com cancro; não há ninguém gravemente ferido, mas há um consultório e um hospital destruídos onde estas crianças eram tratadas. Isto sim, são problemas.
Vejo reportagens de pessoas que sobreviveram: um padre que rezava missa, uma noiva que ia casar, uma rapariga nova, um bebé que nasceu à luz de telemóveis. Numa sala destruída uma senhora com alguma idade toca Auld Lang Syne ao piano, uma música que em Portugal começa assim:
Chegou a hora do adeus,
Irmãos, vamos partir,
No abraço dado em Deus irmãos,
Vamos nos despedir.
Partimos com a esperança irmãos,
De um dia aqui voltar,
Com fé e confiança irmãos
Partimos a cantar.
JdB
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