28 março 2023

Ainda dos preconceitos

Estátua de D. Manuel I em Elvas. É pouco mais do que um anão

Há pouco menos de um ano escrevi um texto intitulado "Dos preconceitos". que começava assim: 

Ao meu lado, uma pessoa classifica socialmente as pessoas que estão num determinado local: é tudo gente gorda. Do meu outro lado, outra pessoa classifica socialmente as pessoas que estão num determinado local: é tudo gente que fala alto. O que é comum a estas duas pessoas? O preconceito. O que separa estas duas pessoas? A forma como cada uma delas sente o mundo que a rodeia.

Alguém que eu conheço fala sempre de crianças que lhe são próximas em função da altura, e conta como amigos / conhecidos falam com espanto sobre a altura dessas mesmas crianças. Di-lo com orgulho, referindo que fulano e beltrano (essas tais crianças) são mais altos/as do que a média. 

O que significa, em 2023, falar da altura de crianças como sendo uma qualidade? E a partir de quando é que a altura de uma criança passa a ser, não uma qualidade, mas uma característica que lhe dificultará a vida em adulto, porque não cabe nos bancos, é maior do que a generalidade dos jovens da sua idade, vai apertado num automóvel ou num avião ou é desajeitado?

Provavelmente como a generalidade dos seres humanos, fui educado - também - nos preconceitos. Havia famílias para quem a prerrogativa era o dinheiro, para outras era o nome, para outras era uma espécie de estética (nunca conheci ninguém que apreciasse o feio...) ou as vidas desportistas e saudáveis e os físicos elegantes. Na minha família o preconceito era contra os maçadores. As pessoas podiam ser baixas ou feias, viver na penúria ou ter um nome que as não distinguisse, não fazer desporto ou serem gordas. Não podiam era maçar o próximo. Este preconceito - apesar de muito pouco cristão - tinha uma valência prática: na verdade, um maçador estraga uma noite. Ora, ser alto - e fazer disso uma nota distintiva - não tem uma valência prática: não significa que se será mais doente, ou mais feio ou com menos sucesso ao amor ou aos negócios. Significa - e apenas - que numa dada fase da vida se é mais pequeno do que os outros.

65 anos de vida deram para conhecer muita gente e muitos preconceitos. Ainda não encontrei, no entanto, gente maçadora com preconceito contra maçadores; ainda não encontrei gente baixa com preconceito contra gente baixa ou gente feia com preconceitos contra a fealdade. Encontrar gente assim é que seria desafiante. Encontrar o que é mais vulgar é ser apenas confrontado com a arrogância. Ao contrário do snob, que valoriza o nome que ele próprio não tem, os detentores de outros preconceitos valorizam o que já têm. O mérito é pouco.

JdB

1 comentário:

Anónimo disse...

Texto claro e simples, portanto bom para pensar.

Mais uma:
Albert Einstein: Common sense is that layer of prejudices which we acquire before we are sixteen.

Abraço

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