Mãos
Foi algures sobre a costa nordeste do Brasil,
sobre Fortaleza, uma cidade de qual nada sei,
exceto que está cheio de gente —
cada vida é um mistério maior do que a Amazónia —
foi ali, enquanto o avião de brincar no monitor de voo
se encostava ao equador
virando para o oeste em direção a Marraquexe,
que comecei de novo a pensar em mãos,
qual estranho as nossas vidas —
a vida da rapariga francesa ruiva à minha esquerda,
a vida do rapaz argentino à minha direita,
a minha vida e as vidas dos passageiros que dormitam,
levados velozmente pela escuridão
sobre o Atlântico enegrecido —
todas essas vidas são agora seguradas pelas mãos do piloto,
e penso noutras mãos que podem segurar as nossas vidas,
as mãos do cirurgião
que vou encontrar de novo quando voltar a casa,
as mãos da enfermeira inteligente de cabelo preto
que desenrolou o cordão umbilical do meu pescoço,
as mãos macias da minha mãe,
as mãos daqueles outros que me amaram,
até parecer quase que a vida humana é isto mesmo:
ser passado de mão em mão,
ser transportado, incertamente, sobre um oceano.
sobre Fortaleza, uma cidade de qual nada sei,
exceto que está cheio de gente —
cada vida é um mistério maior do que a Amazónia —
foi ali, enquanto o avião de brincar no monitor de voo
se encostava ao equador
virando para o oeste em direção a Marraquexe,
que comecei de novo a pensar em mãos,
qual estranho as nossas vidas —
a vida da rapariga francesa ruiva à minha esquerda,
a vida do rapaz argentino à minha direita,
a minha vida e as vidas dos passageiros que dormitam,
levados velozmente pela escuridão
sobre o Atlântico enegrecido —
todas essas vidas são agora seguradas pelas mãos do piloto,
e penso noutras mãos que podem segurar as nossas vidas,
as mãos do cirurgião
que vou encontrar de novo quando voltar a casa,
as mãos da enfermeira inteligente de cabelo preto
que desenrolou o cordão umbilical do meu pescoço,
as mãos macias da minha mãe,
as mãos daqueles outros que me amaram,
até parecer quase que a vida humana é isto mesmo:
ser passado de mão em mão,
ser transportado, incertamente, sobre um oceano.
Moya Cannon
Tradução de Diana V. Almeida, in Contar (com) a Medicina (Caleidoscópio, 2018)
Sem comentários:
Enviar um comentário