UMA SEMANA CHEIA DE BONS PROGRAMAS
Nesta Segunda, decorreu mais uma das entrevistas da decana do jornalismo – Maria João Avillez – com gente nova, ativa no espaço público, para partilharem a sua visão do mundo e a forma como a fé influencia a sua vida profissional e as relações humanas. No meio das vivências pessoais de cada um, deparamo-nos com observações interpelativas sobre modos originais de olhar e de interagir com a realidade (e há tantas opções, segundo o critério e as escolhas de quem observa), tecida de pequenos acontecimentos, que parecem carregados de significado que o próprio ajuda a interpretar.
As três entrevistas já decorridas estão disponíveis no portal da Capela do Rato (https://www.capeladorato.org/), nesta sequência de datas do ciclo «E Deus em nós?...»: a 1ª - a 8.NOV. - Sebastião Bugalho contou peripécias interessantes que viveu e uma profusão de experiências curiosas, como a de ter sido taxado de “direita” por aparecer de camisa branca; a 2ª - a 15.NOV., houve um mano-a-mano entre dois importantes organizadores das JMJ - Matilde Trocado e David Alves (da CML); a 3ª - a 20.NOV. foi a vez do maestro Martim Sousa Tavares partilhar a sua experiência.
Hoje, às 19h00, na Biblioteca de Alcântara, terá lugar o «Recital Didático», que integra o ‘Festival nas freguesias’. À guitarra, António Jorge Gonçalves interpretará
Villa-Lobos, Tárrega, Malats e Pujol. O programa repete-se a 30 de Novembro, no Palácio da Mitra, às 18.00h. Nota – são concertos de entrada é livre.
Seguem mais sugestões de concertos, que animam a temporada, até 9 de Dezembro, vários já com sabor a Natal e a maioria de entrada livre, como indicado caso-a-caso:
Concerto pela Paz
Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras
Nikolay Lalov, maestro
Antonii Baryshevskyi, piano
Bakalov / Muffat | Silvestrov * | Vasks * | Skoryk
* Estreia em Portugal
Bilheteira: Ticketline.sapo.pt
Colóquio - Concerto
Cupertinos
Luis Toscano, direcção
Francisco d’Holanda e Michelangelo
Renascimento português e italiano
Magalhães | Garro | Bruceña | Palestrina
Lusitano | Diniz *
* Estreia absoluta | Encomenda do 49º FEL
Entrada livre
Colóquio - Concerto
Vocal Ensemble
Vasco Negreiros, direcção
Homenagem a Damião de Góis
Gareanus | Gois | Lusitano | Escobar | Cardoso
Vicentino | Caldas*
* Estreia absoluta | Encomenda do 49º FEL
Entrada livre
Coro de Câmara da ESML
Paulo Lourenço, direcção
O Romantismo alemão
Brahms | Schubert | Bruckner
Coro de Câmara da ESML
Paulo Lourenço, direcção
O Romantismo alemão
Brahms
Música de Natal da Flandres e de Liège
Born | Luython | Tongeren | Leodiensium
Ronotte | Fiocco | Froidebise
Entrada livre
Michael Zilm, maestro
O Romantismo alemão
Bruckner
Entrada livre.
Já abriu ao público a exposição «O Tesouro dos Reis. Obras-primas do Terra Sancta Museum», tema do “gin” de 25 de Maio. A mostra vinda da Terra Santa estará patente, até 26 de Fevereiro de 2024, na galeria principal da Gulbenkian (nota – encerra às terças).
Na próxima Sexta, às 19h00, a Fundação Calouste Gulkenbian passará, em sinal aberto nas suas plataformas digitais (https://gulbenkian.pt/musica/agenda/2-a-de-mahler-3/), o concerto onde será interpretada a Sinfonia da Ressurreição (a segunda) de Mahler e uma peça de Lygeti – «Atmosphères», sob a direção do maestro finlandês Hannu Linto. Segundo explica a folha de sala:
Gustav Mahler
(Kalischt, 1860 – Viena, 1911)
Sinfonia n.º 2, em Dó menor, “Ressurreição”
—
COMPOSIÇÃO 1888-1894/1903
ESTREIA Berlim, 13 de dezembro de 1895
DURAÇÃO c. 1h 24 min.
Os 5 andamentos:
I. Allegro maestoso
2. Andante moderato
3. In ruhig fließender Bewegung
(Andamento tranquilo e fluido)
4. Urlicht: Sehr feierlich, aber schlicht
(Luz primordial: Muito solene, mas simples)
5. Im Tempo des Scherzos
(No tempo de um Scherzo)
«Em 1888, numa altura em que ainda trabalhava para concluir a sua Sinfonia n.º 1, Gustav Mahler compôs um poema sinfónico, Totenfeier, que dizia representar as cerimónias fúnebres em homenagem ao herói evocado naquela obra, cuja morte levantara todo um conjunto de questões existenciais. Indeciso sobre o rumo a dar a essa peça, decidiu finalmente incluí-la numa nova sinfonia, compondo os restantes andamentos entre 1893 e 1894.
O processo de composição da obra parece ter estado em grande parte dependente de uma conceptualização narrativa da sua estrutura. Com efeito, o próprio compositor concebeu diversas versões de um programa narrativo para a sinfonia, sugerindo nomeadamente uma progressão desde um estado de ansiedade aparentemente insolúvel, até que a tensão é finalmente resolvida, numa reinterpretação da mitologia judaico-cristã, no momento do apocalipse e subsequente redenção (de onde terá derivado o título “Ressurreição”, atribuído a posteriori).
A Sinfonia n.º 2, para soprano e contralto solistas, coro e orquestra, seria assim estreada em 1895, em Berlim, sob a direção de Mahler, mas alcançaria uma popularidade alargada apenas na versão revista de 1903, na sequência do sucesso obtido com a estreia da Sinfonia n.º 3, em 1902, que aliás fora planeada enquanto uma sequela ambiciosa para a sua antecedente, tendo constituído o primeiro grande êxito público de Mahler enquanto compositor sinfónico.
A obra inicia-se com um Allegro maestoso que, de acordo com o programa delineado pelo compositor, constitui uma meditação exasperada sobre a condição mortal do ser humano. Aludindo em diversos aspetos ao andamento lento da Eroica de Beethoven (…).
Segue-se um Andante moderato – cujo material temático remontará ainda a 1888 – que intencionalmente contrasta a vários níveis com o andamento precedente. Na intenção de sugerir uma inocente e nostálgica visão retrospetiva da bem-aventurada juventude do herói, o andamento foi composto à maneira de um suave Ländler, em Lá bemol maior, projetando um ambiente bucólico de um lirismo sofisticado que em dois momentos é sujeito às inquietantes intromissões da ideia de morte. (…) (S)endo permeado por elementos energéticos do scherzo beethoveniano, apresenta uma reformulação sinfónica de material usado na canção Des Antonius von Padua Fischpredigt (“O sermão de Santo António de Pádua aos peixes”), composta em 1893 sobre textos de Des Knaben Wunderhorn. Dedicada às tentativas infrutíferas de Santo António de pregar a moral cristã aos peixes indiferentes, a canção é neste andamento associada à ideia de alienação subjetiva do protagonista em relação à sociedade convencional, tomando, desta feita, a forma de uma valsa sardónica que evoca de modo brilhante o cinismo do texto.
No quarto andamento (Urlicht: Sehr feierlich, aber schlicht) o compositor abandona o tom humorístico para, na tonalidade distante de Ré bemol maior, evocar o desejo de libertação das aflições mundanas rumo à divindade, recorrendo para esse efeito à canção Urlicht, que havia composto também em 1893 sobre textos de Des Knaben Wunderhorn. Desta feita, cabe ao contralto solista protagonizar uma piedosa enunciação de fé, em linhas de uma expressividade mais cromática e quase erótica. A simplicidade deste momento é, paradoxalmente, produzida através de uma acentuada complexidade métrica (derivada de uma atenção extrema à prosódia), bem como de uma orquestração bastante detalhada e inventiva, como se de música de câmara se tratasse.
Por fim, o andamento final (Im Tempo des Scherzos) está construído em duas grandes secções. Numa primeira parte instrumental em forma sonata, em torno de Fá menor, uma introdução expansiva recupera o ambiente fúnebre do início da sinfonia, assombrado agora pelo tema do Dies irae, após o que sobrevém uma grandiosa marcha orquestral, programaticamente interpretada durante a procissão para o Juízo Final, a qual culmina no momento em que à distância soa a última trombeta do apocalipse. Inicia-se então uma segunda parte, espécie de grande cantata sinfónica, em que o julgamento é revertido em redenção: em Sol bemol maior, o coro murmura, praticamente no limite da audibilidade, duas estrofes do hino Die Auferstehung (“A Ressurreição”), de G. F. Klopstock, emergindo dessas sonoridades corais o arrebatador dueto do soprano e do contralto, que elaboram as suas linhas solísticas sobre versos do próprio Mahler. Um grande crescendo conduz a uma peroração de júbilo, em Mi bemol maior, na qual o compositor faz uso da totalidade das forças corais e orquestrais ao seu dispor na projeção de uma esperança fervorosa numa renovação transcendente.»
No MNAA (Arte Antiga) continua exposto, até 7 de Janeiro de 2024, o tríptico magnífico da colecção Gaudium Magnum, de Maria e João Cortez de Lobão, pintado pelo florentino Ventura di Moro (1395-1486), onde sobressai a delicadeza do traço muito clássico, que faz transbordar de ternura a figura maternal da Virgem com o Menino.
No Convento dos Cardaes (rua do Século, nº 123, na esquina com a rua da Academia de Ciências) já começou o Chá de Natal Solidário (https://www.conventodoscardaes.com/natalsolidario), com chocolate quente, chás e tisanas, para acompanhar scones e bolos deliciosos, que ajudam a manter aquela casa tão antiga, onde doentes cegas e diminuídas vivem ao cuidado das Irmãs que lhes devotaram a vida. Até 17 de Dezembro, o Chá funcionará a pleno vapor, permitindo reservas para os mais organizados, que queiram levar amigos: natalsolidario@conventodoscardaes.com.
As beneficiadas do Chá solidário. |
À esq. – o claustro do piso superior do Convento do séc.XVII, que sobreviveu ao terramoto. À dta. - as arcadas do claustro do piso térreo. |
Na contagem decrescente para o Natal, Lisboa fica especialmente fervilhante, repleta de programas interessantes. Exige muita flexibilidade de agenda para acompanhar tantas sugestões imperdíveis e até úteis a quem mais precisa. É um tempo de luxo, ainda por cima sob o sol manso do Outono português.
(a preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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