Tenho uma amiga que é doida.
É doida porque não sabe que o é. Os doidos que sabem que o são, não são doidos. São doentes, são desequilibrados, mas falta-lhes aquele pormenor essencial na loucura que é a ignorância de o ser.
Como qualquer doido que é doido, a minha amiga acha que todos em sua volta são doidos. É como os chatos, que encontram em cada semelhante um chato de morrer, como os estúpidos, que vêem sempre no alheio sinais visíveis de estupidez, como os incompetentes que são os juízes mais implacáveis da incompetência dos outros ou como os fala-barato que desesperam com um interlocutor que não meça cuidadosamente as palavras.
O mundo para a minha amiga é pois constituído por um cambada de doidos que ela se diverte a analisar. É curioso, no entanto, que a minha amiga não faz juízos sobre a loucura dos outros. Para ela, loucura é diversidade, é inconformismo e é sobretudo alegria.
A minha amiga é uma pessoa feliz e sente-se desconfortável perante a tristeza. Tem as suas obsessões, as suas iras, os seus desconfortos, mas tudo isso, ela resume a simples manias.
A minha amiga gosta de ser amada e talvez aí esteja a sua maior loucura. Os não- doidos preferem amar, sofrer por amor. A minha amiga não gosta de sofrer e por isso não quer amar.
O mundo dos doidos é um mundo próprio, exclusivo, muito difícil de penetrar e impossível de partilhar. Os não-doidos apenas conseguem descortinar a diferença e a anormalidade dos doidos. Por isso os doidos são tão pouco populares.
A minha amiga sonha e fantasia. Foi bailarina do Bolshoi, sobreviveu ao ataque ao World Trade Center e descobriu a cura para uma doença que ninguém conhece. Os sonhos e as fantasias dos doidos são sempre quanto ao passado. Os doidos não sonham com o futuro e não têm medo da morte. Talvez porque a morte é o fim da realidade e aos doidos falta-lhes esse sentido.
A minha amiga acha que eu sou doido. Doido varrido.
Tenho uma amiga que é doida e eu gosto muito dela.
J. Buggs
É doida porque não sabe que o é. Os doidos que sabem que o são, não são doidos. São doentes, são desequilibrados, mas falta-lhes aquele pormenor essencial na loucura que é a ignorância de o ser.
Como qualquer doido que é doido, a minha amiga acha que todos em sua volta são doidos. É como os chatos, que encontram em cada semelhante um chato de morrer, como os estúpidos, que vêem sempre no alheio sinais visíveis de estupidez, como os incompetentes que são os juízes mais implacáveis da incompetência dos outros ou como os fala-barato que desesperam com um interlocutor que não meça cuidadosamente as palavras.
O mundo para a minha amiga é pois constituído por um cambada de doidos que ela se diverte a analisar. É curioso, no entanto, que a minha amiga não faz juízos sobre a loucura dos outros. Para ela, loucura é diversidade, é inconformismo e é sobretudo alegria.
A minha amiga é uma pessoa feliz e sente-se desconfortável perante a tristeza. Tem as suas obsessões, as suas iras, os seus desconfortos, mas tudo isso, ela resume a simples manias.
A minha amiga gosta de ser amada e talvez aí esteja a sua maior loucura. Os não- doidos preferem amar, sofrer por amor. A minha amiga não gosta de sofrer e por isso não quer amar.
O mundo dos doidos é um mundo próprio, exclusivo, muito difícil de penetrar e impossível de partilhar. Os não-doidos apenas conseguem descortinar a diferença e a anormalidade dos doidos. Por isso os doidos são tão pouco populares.
A minha amiga sonha e fantasia. Foi bailarina do Bolshoi, sobreviveu ao ataque ao World Trade Center e descobriu a cura para uma doença que ninguém conhece. Os sonhos e as fantasias dos doidos são sempre quanto ao passado. Os doidos não sonham com o futuro e não têm medo da morte. Talvez porque a morte é o fim da realidade e aos doidos falta-lhes esse sentido.
A minha amiga acha que eu sou doido. Doido varrido.
Tenho uma amiga que é doida e eu gosto muito dela.
J. Buggs
5 comentários:
E eis que hoje aconteceu literatura! Beijo da RF
Bendita loucura ... venha ela. venha a doidice. quem, no seu perfeito juízo, não quer ser louco? quem, na sua loucura, não quer amar sem sofrer? quem, na sua douta insanidade, não quer ser amado até morrer?
parabéns jota insectos, por saber valorizar a amizade.
Espero que o J. Buggs continue por cá muito tempo. Belo texto.
mas o mundo está todo doido, ou não está?
varrido, dos pés à cabeça, sem cabeça, e sem pés.
e vivam os doidos, esses varridos...
e vivam os amigos, esses doidos...
e vivam todos no mesmo mundo, a ser varrido
Grande texto! Parabéns.
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