lembrava-se,
como se à brutal oficina do tempo
correspondesse
a infinitude delicada da memória.
tomava por seus os céus da catalunha,
emprestadas testemunhas
da sua história trágico-marítima
mais íntima.
a noite caía na temperatura, gelada agora.
trombetas emudecidas
que ninguém esperava, que ninguém escutava,
um som-silêncio-cimento universal.
'a arte de perder não é difícil de dominar',
tudo isto lhe passava agora à frente, rente aos olhos,
uma visão futura indesejada
fazendo-se passar por outra coisa.
obscenidades.
como este poema terrível:
escrito a partir do tempo futuro,
mas vívido, vivo, no presente mais doloroso,
que é sempre o tempo-mal-passado.
como as
legiões romanas de outrora,
e as senhoras de meia idade agora,
as palavras são enviadas para a morte,
estrelas nos céus de amanhã,
indiferentes à triste sina
ou só má-sorte
dos que ficaram para trás.
dói o céu que ontem foi derrotado,
esse último céu sobre a batalha mais sangrenta,
a da metafísica cruel.
palavras, outra vez:
assassinos a soldo do monstro
a que chamam devir.
tudo o resto:
um rosto amachucado,
um homem de rastos,
o cadáver esquisito do futuro decomposto,
amargo travo de açúcar que é já fel.
resta-nos rir.
nós, os que vamos morrer
despedaçados pela ponta das palavras,
saudamos-te, césar.
gi.
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