No espaço de duas semanas andei de avião - viagens europeias, com uma duração aproximada de duas horas e meia. A experiência - mais a segunda do que a primeira - é um verdadeiro suplício. Aviões cheios, gente aos encontrões, os joelhos a serem esmagados pelas costas do banco da frente, a zona interior das coxas sujeitas a cãibras permanentes. Já não falo da gastronomia a bordo: uma sandes seca, triste, a pedir deglutição rápida para não deixar traumas futuros.
Com paciência, jeito e saber, voa-se para quase qualquer sítio da Europa por meia dúzia de patacos. Há 30 anos, como referi ontem, voava-se por dez ou quinze vezes mais - para além dos rendimentos de hoje serem substancialmente superiores. Há meia-dúzia de anos fui fazer um cruzeiro a várias ilhas gregas. O barco (cujo grau de luxo desconheço) era um albergue ambulante: famílias completas aos gritos, crianças a correr pelo convés, fotografias tiradas na zona das piscinas com um legenda subjacente: onde está wally? Penso até ter visto uma rapariga a dar de mamar ao lado de um slot machine, não sei se por respeito pelas horas de comer do menino, se por superstição do tilintar da máquina.
Não há capital da Europa que não se invada de turistas, numa miríade de excursões e agregados familiares que devassam locais de culto, tornam os museus intransitáveis, circulam pelas ruas estreitas como uma mole de gente imparável em perpétuo movimento. Em Cracóvia, há meia dúzia de anos, só se ouvia falar espanhol; em Amesterdão, pouco tempo depois, a zona de actividade nocturna era a última conquista dos Estados Unidos.
Viajar é hoje em dia barato. Quando eu tinha 15 anos, grande parte da minha geração só conhecia Londres - para além de Badajoz para caramelos e borrachas com cheiro. Agora, a juventude da mesma idade já conhece várias capitais europeias, já veranearam na República Dominicana, no México, em Marrocos. A juventude de hoje é muito mais viajada, o que é importante e salutar. Mas serão mais cultos - ou apenas mais informados?
JdB
1 comentário:
Parte do interesse, para mim, das suas crónicas é vc fazer com grande frequência uma retrospectiva ao passado. Relembra-me constantemente pormenores de que nem me dou conta ou me lembro. Tipo: quando eu tinha 18 anos, a maior parte das pessoas que eu conhecia só tinha ido a Londres, Paris ou Guadarrama. Eu conheci (e fiz) algumas que fizeram o inter-rail. Mas sempre na base da mochila e do albergue da juventude. Hoje, do que me parece, a juventude de 18 anos viaja com mais conforto (pelo menos, as de um determinado escalão social). As outras talvez nem viajem... Boa viagem para si!. pcp. ps: sabe quem me lembra, JdB? Talvez mal comparado... O Bruce Chatwin, já leu?
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