Comecei a trabalhar há perto de 32 (!) anos numa empresa de investimentos muito “democrática”, em que cada accionista só podia ter 100 acções, de forma directa ou indirecta, por mais sonante que fosse o seu nome ou por mais alto que fosse o cargo desempenhado na respectiva vida profissional. Eram tempos difíceis, os dos fins da década de 70, princípios da de 80, com o País à beira da bancarrota (onde é que já vimos este filme?). A empresa também não escapou à crise e, quase quatro anos depois, tive mesmo de sair, com grande pena minha, que sempre me agarrei, por certo de mais, àquilo que faço.
Um parêntesis só para dizer que alguns dos accionistas, e estou a falar de pessoas com recursos limitados, queriam continuar a colocar as suas poupanças na empresa, apesar da situação, numa manifestação de confiança que às vezes me arrepiava um bocado. Lembro-me em particular de um deles, que infelizmente já não está entre nós, pessoa de grande carácter e integridade, com quem tive o grato prazer de lidar e cuja memória não esqueço.
Tive também a sorte de ter como primeiro chefe um homem com quem muito aprendi. Inteligente, mandão, inconstante, bon vivant. O meu avô paterno dizia qualquer coisa como “é um privilégio raro termos um chefe que admiramos”, e concordo com ele. Posso afirmar que admirei esse meu primeiro chefe: ajudou-me no início da minha vida de trabalho, a somar a prática à teoria trazida dos anos de ensino, a apresentar um assunto numa reunião difícil ou, no verão, a beber champanhe ao almoço, acompanhando um bom prato de peixe.
E gostava muito de música clássica. A minha escolha é sobretudo em sua homenagem, porque a 7ª sinfonia de Beethoven é toda ela um portento. Scarlett Johansson impediu-me de ouvir a parte seleccionada de olhos fechados...
Espero que também gostem!
fq
6 comentários:
Também acho uma raridade admirarmos um chefe. Eu já admirei um. Um génio ... mas absolutamente intratável. Mas a sua inteligência e rasgo eram absolutamente inspiradoras. Pensava "grande", modelava o "futuro", não ficava à espera que os outros o fizessem. O calcanhar de Aquiles dele era mesmo o seu feitio. O que o prejudicava muito. Quanto à Scarlett Johanson: é, é giríssima. Mas sabe que tenho uma sobrinha, com 13 anos, que é IGUAL a ela? E não sou só eu que digo. Bom texto e boa escolha, fq. Obrigada. pcp
Que homenagem tão rara. Fiquei tocada.
Também tive um chefe assim. Foi um privilégio e quase tudo o que sei e sou, foi com ele que aprendi. Ergo consigo a taça de champanhe.
Gosto mais da música,boa sugestão para uma 3Feira cinzenta, mas tenho a certeza que o meu chefe escolheria a Scarlett e de olhos bem abertos.
Bom dia fq.
Bom post, fq! Tal como falávamos ontem, sete minutos e trinta e dois segundos do sagrado e do profano - porque é disso que falamos - em convivência perfeita. Este 2º andamento só pode ter saído da mente de um génio. O que diria ele se, numa noite de insónia em que comporia estas superioridades, lhe surgisse a Scarlett pela frente. se calhar com um brinco de pérola... Vale a pena tomar atenção aos dois minutos e um ou dois segundos. Explosivo de som e imagem.
eu tenho a rara sorte de ter HOJE um chefe assim ... neste caso, uma "chefa" que é também uma amiga, é humana, atenta aos colaboradores, directora-geral, não tem pruridos em lamber envelopes, atender telefones ou mesmo abrir a porta da rua. Com ela comecei a minha actividade, há 26 anos, aprendi tudo o que sei e ainda hoje trabalhamos juntas, numa amizade que é crescente e contagiante. É uma raridade, nos tempos de hoje. Bem haja, Rita. Obrigado, fq, por me fazer realizar a sorte que tenho.
Maf
fq, bom post! Great choice of music, one of my favourite classical pieces. I should be thinking of an anecdote about one of my bosses, since your post deserves my consideration, but it is late and I still have to pack my suitcase for a morning flight to...Lisbon. Thanks, PO
Peço desculpa pelo comentário tardio mas estive ontem o dia inteiro sem internet e à noite esqueci-me. Lembro-me bem desse chefe sui generis. Bela homenagem que lhe fazes. Com Beethoven e Scarlett Johanssen. Mistura explosiva!
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