04 março 2012

2º Domingo do Tempo da Quaresma

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de Católico.

6ª feira atirei-me de boleia ao Porto. Fui ver, acompanhado de gente da Acreditar, o terreno junto ao IPO que nos foi cedido para a construção da próxima, e provavelmente última, Casa da Acreditar. Daqui por três anos, talvez, teremos entre 13 e 15 famílias que, no seu combate contra o cancro infantil, ali encontrarão uma casa longe de casa. 

No caminho para cá fomos falando de gente que passou por este drama na sua forma mais dolorosa, que é a da perda, da paz que vamos ou não encontrando, do luto que conseguimos fazer, das motivações que nos levam a aproximar ou a afastar da Acreditar. Lembrei-me, como sempre, de uma frase que cito frequentemente: todos os dramas são suportáveis se fizermos deles uma história

Falou-se de fé. Citámos o caso de uma amiga comum, vítima da dor maior, dona de uma alma onde não entra aquilo que nos leva a acreditar no invisível. Dizem-me que, passados tantos anos (provavelmente mais de 15) ainda não encontrou sossego dentro de si. Olho para dentro de mim próprio, e não tenho dúvidas em reconhecer que a fé desempenhou um papel fundamental no caminho que percorro há dez anos. Talvez a dúvida não assente só na importância da fé, mas também na forma como a fé vai montando uma teia de paz. 

Não tenho certezas. Nem todos os Pais que perdem filhos são crentes, e muitos terão construído uma vida onde as memórias vivem mansamente. Muitos Pais, por outro lado, são crentes, e quem sabe os que viverão entristecidos e sobressaltados? Que ferramentas usarão uns e outros? Ter fé basta para aquietar os nossos desgostos mais profundos? Acreditar numa vida eterna, num Deus que não é senão Amor, no encanto dos anjos como embaixadores celestes? Repito: não tenho certezas, nem poderei afiançar que a fé é uma condição necessária, quanto mais suficiente.

A frase que citei acima, e que me acompanha há anos, talvez dê a chave: todos os dramas são suportáveis se fizermos deles uma história. Eu, estou convicto, quis construir uma história - ou vim a perceber a vantagem de um trilho que segui inconscientemente. À semelhança de muitos, mas ao contrário de muitos, também, a vida levou-me a escolher a fé como personagem principal. Poderia questionar-me se foi esse o segredo, mas temo ser presunçoso. Afinal, o meu caminho é o meu caminho, nada mais do que isso. E a ideia que tenho de mim próprio será sempre influenciada por esta dúvida: sou o que sou ou sou o que vejo no espelho? 

Bom domingo para todos.

JdB         



EVANGELHO – Mc 9,2-10

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João
e subiu só com eles
para um lugar retirado num alto monte
e transfigurou-Se diante deles.
As suas vestes tornaram-se resplandecentes,
de tal brancura que nenhum lavadeiro sobre a terra
as poderia assim branquear.
Apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando com Jesus.
Pedro tomou a palavra e disse a Jesus:
«Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés, outra para Elias».
Não sabia o que dizia, pois estavam atemorizados.
Veio então uma nuvem que os cobriu com a sua sombra
e da nuvem fez-se ouvir uma voz:
«Este é o meu Filho muito amado: escutai-O».
De repente, olhando em redor,
não viram mais ninguém,
a não ser Jesus, sozinho com eles.
Ao descerem do monte,
Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém
o que tinham visto,
enquanto o Filho do homem não ressuscitasse dos mortos.
Eles guardaram a recomendação,
mas perguntavam entre si o que seria ressuscitar dos mortos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Como bem costuma dizer a minha amiga MZ, nós somos um mistério, a vida é um mistério. Nós somos o que sentimos que somos, os outros vêem coisas em nós das quais não temos consciência e ainda somos mais do que isto. O que já mergulha no mistério. À medida que vou "crescendo", cada vez me dou mais conta da necessidade de pensar assim. Dá uma liberdade interior incrível e remete para Deus - que é também Ele um mistério - o incompreensível da nossa vida. Obrigada, JdB. pcp

Anónimo disse...

Aliás, Deus é O mistério! pcp

arit netoj disse...

Dar sentido à vida, criando essa história vai-nos dando paz...
Bj, Rita

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