25 março 2012

5º Domingo do tempo da Quaresma

Hoje é Domingo, e eu não esqueço a minha condição de católico.

Anteontem - mais ou menos óbvio para quem segue as caixas de comentários - soube e conversei sobre a morte de alguém próximo de alguém próximo. Não conhecia a pessoa em questão. Cruzara-me com ela duas vezes, uma num jantar social e outra na brevidade de um aeroporto. A minha opinião formou-se por quem me falava dela com tanta admiração e orgulho: a riqueza despojada (de facto rico não é aquele que tudo tem, mas aquele a quem nada falta), a fé transbordante e alegre, a dedicação a duas entidades que são indissociáveis - Deus e os Homens. Deixou obra feita em África. Mesmo que a frase seja já um lugar-comum estafado, vale a pena relembrá-la: não deu peixes, ajudou a pescar, porque a verdadeira caridade é (também) ajudar a crescer. Da pessoa que morreu na 6ª feira pouco mais sei, mas isto chega para invejar uma vida.

A morte, no seu sentido genérico, tocou, seguramente, o coração de todos os que me vão lendo. A uns de uma forma mais brutal, a outros de uma forma mais mansa. Crente como sou, acredito que quem parte vai para um lugar de uma dimensão superior. É por isso - e porque ouvi muito em casa - que rezo sempre por quem fica. Mas, mesmo para todos os que acreditam na vida eterna, o buraco não deixa de se abrir na nossa alma. Neste caso, porquê ela, porquê agora, porquê uma pessoa que tanta falta fará aqui e ali por onde espalhava sabedoria e amor? Felizmente não nos cabe decidir o desaparecimento das pessoas em função de uma utilidade ou de uma falta, porque isso seria perverter a ideia de que somos todos iguais e todos desempenhamos um papel. 

Deus não está na morte das pessoas que nos fazem falta, mas está no coração de quem sofre. O desafio que Ele nos lança permanece: como transformamos o porquê em para quê? O que faço eu com a morte desta pessoa, notável à sua maneira? O que retenho da sua passagem pela Terra? Como poderei honrar o seu legado a quem com ela privou? Que lições tiro eu da brevidade injusta da vida, deste fio de cabelo que separa uma vida activa de uma morte prematura? O que me sugere Deus que eu faça?

Encontrar coincidências significativas nos acontecimentos pode ser motivo de apaziguamento interno. Talvez esta pessoa, que eu conhecia apenas de ouvir falar, tenha escolhido um momento específico para desaparecer na curva da estrada. Afinal, estamos na Quaresma, e Cristo conta connosco para que a Sua morte tenha sentido. A estas horas talvez haja uma risada generalizada no Céu, promovida por quem chegou recentemente, porque a alegria não é incompatível com o Amor, o riso pode conviver com o sentido da vida, na boa disposição abraça-se também quem precisa.


Bom Domingo para todos. 


JdB 


PS: O Evangelho de hoje é particularmente adequado a esta ideia de morte, de frutos, de despojamento. Mais uma coincidência significativa, sei lá eu...    

 ***   

EVANGELHO – Jo 12,20-33

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
alguns gregos que tinha vindo a Jerusalém
para adorar nos dias da festa,
foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia,
e fizeram-lhe este pedido:
«Senhor, nós queríamos ver Jesus».
Filipe foi dizê-lo a André;
e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus.
Jesus respondeu-lhes:
«Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado.
Em verdade, em verdade vos digo:
Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só;
mas se morrer, dará muito fruto.
Quem ama a sua vida, perdê-la-á,
e quem despreza a sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna.
Se alguém Me quiser servir, que Me siga,
e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo.
E se alguém Me servir, meu Pai o honrará.
Agora a minha alma está perturbada.
E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora?
Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora.
Pai, glorifica o teu nome».

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