09 março 2012

Moleskine

Saúde (I). Decidi fazer um check-up. Consultei uma médica amiga de há muitos anos, marquei os variados exames para, numa manhã bem esgalhada, poder dar conta do recado. Só num dos exames houve um ligeiro atraso. Para poder não falhar o seguinte, consultei uma das funcionárias, indagando se demoraria muito tempo. Respondeu-me que faltava um bocadinho. Sei que consigo ser um maçador, pelo que não desisto e indago: sou muito engenheiro, importa-se de me definir o que é um bocadinho? Não há sítio onde se faça uma pergunta concreta que não nos respondam com algo vago. 

Saúde (II). Acompanho alguém que vai fazer um exame médico com alguma complexidade. Antes peço para o médico me dar notícias logo que possível. Uma enfermeira informa-me, solícita e sorridente, que o doutor vai falar comigo, que o exame já terminou. Aparece um cavalheiro que me pergunta: queria falar comigo? Pergunto se foi ele que fez o exame à pessoa em questão. A resposta é afirmativa, com laivos de impaciência, porque já está à civil, tem papéis debaixo do braço, e se calhar tem compromissos para o almoço. Surge então o surpreendente na boca de um médico que vai dar novas sobre um exame complexo: diga-me o que quer saber, especificamente... Hesito entre perguntar-lhe pela regularidade intestinal, pela vida depois da morte, ou pela extinção do lince da Malcata. O que quero saber? Com o advérbio especificamente? De facto, alguns médicos podem saber tudo sobre doenças do seu foro, mas chumbaram na cadeira de relação com os doentes.

Música. Apeteceu-me, olhem. Porquê? Não sei, é um mistério...
      


Sporting. Tenho uma relação desinteressada com o futebol. Acho um desporto na generalidade maçador e o meu clube de eleição não é, infelizmente, a excepção que confirma a regra. Vi-o jogar ontem e ganhar esforçadamente ao Manchester City. Questiono-me se será o Sá Pinto o o treinador que vai devolver as glórias ao clube de Alvalade. Foi colega de faculdade da minha filha e, num qualquer evento social, fui-me apresentar, porque nalgumas ocasiões tornamo-nos conhecidos por sermos pais de alguém. Sendo um velho de espírito, aprecio alguns pormenores de educação, e o Sá Pinto tinha-as: quando me aproximei apertou imediatamente o botão do blazer, porque alguém lhe deve ter ensinado que não se fala com uma pessoa mais velha de casaco desapertado.

Velhices. No outro dia, quando fui ao Porto, acompanhava-me também uma jovem de 30 anos. A dada altura falou-se de música, do gosto de dançar, da relativa aversão que os homens de hoje em dia têm a essa actividade que, segundo um amigo de juventude (e dos meus colegas de Duas Últimas) era a única forma legal de um rapaz se agarrar a uma rapariga em público. Depois, maçador e velho, dei por mim a explicar-lhe algumas regras de há 35 - 37 anos: pedia-se a uma rapariga para dançar e agradecia-se no fim;  não se dançava a fumar nem a beber, porque era falta de respeito; a dança era uma actividade a dois, e não em grupo; havia a expressão slow, hoje aplicada, provavelmente, a algum jogador de futebol. E outras, que tinham alguma estética... Hoje estou assim, nostálgico, mas também não vou pedir desculpa a ninguém...

Façam o favor de ser felizes.

JdB      

3 comentários:

Ana CC disse...

Bom dia Sr. Engº SdB
Hoje é para lhe dar na cabeça por causa do seu discurso saudosista de velho acomodado. Parece as velhas do autocarro sempre a reclamarem da malta nova.
Este seu desabafo toca-me mais, porque dei por mim a fazer essa figura triste num autocarro que percorre a estrada Monumental, cheio de turistas de idade avançada, agarrados a um tubo de inox e um bando de criaturas jovens sentados e indiferentes, a ouvir os seus Ipads, Iphones, Ipobs o que seja.

Anónimo disse...

Engenheiro
Foi giro lembrar Chris de Burgh por quem o meu filho teve uma paixao por volta dos seus 15 anos. Ainda me lembro das letras que ele cantava aos berros em casa (nao havia icoisas nessa altura) e para te redimires junto da comentadora anterior oferece-lhe uma roupinha encarnada. "Lady in red" - os lyrics seriam um melhor sequitor a danca..
Cuidado nao confundir com outra "Patricia, the stripper" ahahaha

Anónimo disse...

Tem graça contares essa história do SP. Tb foi uma vez muito bem criado comigo (até fiquei admirado!) à saída de um restaurante em Lisboa, há alguns anos, estava eu com a minha mulher.
Moleskine, óptimo, como é hábito,não deixando de concordar com a Ana a respeito das "velhices" (isto é auto critica!).
Abr
fq

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