19 junho 2012

Duas últimas

No espaço exacto de um mês (16 de Maio a 16 de Junho) escrevi três mails a três pessoas diferentes, pelas quais nutro amizades com graus diferentes, sobre temas diferentes. Em comum apenas isto, até porque as pessoas não se conhecem entre si: por um motivo ou por outro havia, na engrenagem que rege os meus sentimentos (ou na engrenagem que lê os sentimentos alheios) um pequeníssimo grão de areia, algo que provocava um desvio infinitesimal na suave rotina das marés ou na regularidade sossegada dos dias. Perante três possíveis hipóteses - não fazer nada, falar ou escrever - escolhi a última. Tudo me correu bem, felizmente. 

Não escondo que, durante o acto de pensar no que diria aos destinatários (normalmente nos meus passeios muitíssimo matinais no paredão) me lembrei de um post da nossa astróloga residente (que pode ser relido aqui) sobre Vénus retrógrada e a possibilidade de, neste tempo, se poderem esclarecer algumas coisas com terceiros (passe a explicação simplista). Tenho com a astrologia uma relação indefinível, igual, talvez, à de muitas pessoas: não sou um crente total, não sou um descrente em igual medida. Para a parte de mim que ouve e interioriza algumas coisas muito contribuiu a amizade recente com a Luiza Azancot que, com a sua inteligência e cultura, me proporcionou uma explicação para algumas interrogações. Terei escrito aos meus interlocutores porque Vénus estava retrógrada ou são puras coincidências? Pois não sei...

No outro dia, num blogue que frequento amiúde, alguém escrevia que tinha queimado todas as cartas que recebera, porque entendia que essa parte da vida era exclusivamente sua, e que o tempo não se consegue, nem se quer, agarrar com escritos pessoais. Comentei discordando - e estive sozinho na discórdia. Sinto a falta de receber e de escrever cartas. Sinto falta do papel, da caneta, da caligrafia, do exercício da decifração. Guardo quase todas as que me escreveram, por mais ingénuas, alegres ou tristes que possam ser. Um dia, quem sabe, os meus descendentes pegarão nos envelopes e sorrirão, pensando como era um tempo que não é o deles, imaginando o que terá motivado aquela carta que eu recebi, conhecendo partes da vida que eu entendo não serem exclusivamente minhas.

Deixo-vos com o tema cartas, numa outra romagem nostálgica. Dantes guardavam-se numa caixa e rasgavam-se com raiva ou desespero. Agora guardam-se num pen que faz anúncio a uma oficina de automóveis e prime-se a tecla delete...

JdB

     


2 comentários:

Ana disse...

Ao que eu chamaria resundar (ou rezundar) com carinho.

Luiza A disse...

Essa relacao com a astrologia e' muito saudavel, abre possibilidades, faz crescer. Qualquer das outras - creca total ou descrenca total - e' estatica. Tambem hoje, outra coincidencia significativa, perante mais uma mudanca, pensava nas cartas que guardei, num "necessaire" de flores e que vao ainda viajar de Cape Cod para o Estoril.

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