Em Portugal,
sempre que há um determinado tema na roda do dia, logo surgem diversos
pseudo-especialistas a comentar o que se passou, a explicar o que se passa e a
prever, com uma certeza de fazer inveja aos bruxos, tudo que se vai passar,
como consequência do que se passou. Falam de Economia, Saúde Pública, Justiça,
Desporto, etc.
Mas, de
facto, a economia é o departamento em que os especialistas mais aparecem e
mais comentam na actualidade. Porém, como nem tudo é mau, ainda há
verdadeiros especialistas. Aqueles que realmente sabem do que falam e só
falam do que sabem. Não têm pretensões a falar de culinária e desporto com o
mesmo grau de exactidão. De entre esses, destaco Tavares Moreira (ex-governador
do Banco de Portugal). Como tal, deixo aqui umas linhas sábias sobre o PIB
grego, publicadas no blogue Quarta República.
Grécia destrói riqueza? Como
assim?
1.
Num dos mais lidos e especializados jornais económicos “on line” editados em
Portugal, li há pouco o seguinte comentário “ A Grécia continua a ser palco de
forte destruição de riqueza”.
2.
Este comentário, de sabor futebolístico (a moda assim o exige?), feito a
propósito da notícia de que o PIB na Grécia tinha contraído 6,5% no 1º
Trim/2012 por comparação ao 1ª Trim/2011 (variação homóloga), revela que quem o
escreveu não tem a menor noção do que é o PIB: o valor daquilo que uma economia
acrescenta (fluxo), num dado período, à riqueza nacional existente (stock) no
início desse mesmo período. Ou, tendo essa noção, resolve escrever o que lhe
vem à cabeça, pouco se importando se isso está certo ou errado.
3. O
facto de o PIB do 1º trimestre deste ano ser inferior ao do 1º trimestre do ano
anterior - em 6,5% ou noutra qq % - não significa que o próprio PIB seja
negativo: significa apenas que o valor acrescentado do período considerado foi
inferior ao do período de comparação...mas ser inferior não é o mesmo que ser
negativo...
4.
Assim sendo, não houve nenhuma destruição de riqueza, o que houve foi um
acréscimo menor de riqueza do que aquele que se tinha verificado um ano
antes...
5.
Mas é através deste tipo de falsas ideias fabricadas à pressa pelos media,
que os cidadãos vão consolidando a sua ignorância sobre estes assuntos,
acabando por não ter a menor noção daquilo que se discute: todos têm a mesma
razão, digam o que disserem, ninguém tem razão no final...
6.
Não admira, pois, que este ambiente de confusão seja propício para os
Crescimentistas difundirem as suas fantasiosas teses sobre o crescimento a
“todo o vapor”, sem a menor preocupação quanto aos pressupostos desse mesmo
crescimento...
7.
Quem diz que a Grécia está destruindo riqueza pode dizer, com a mesma
facilidade e convicção, que essa história da correcção dos desequilíbrios da
economia é uma obsessão dos neo-liberais... e o que se impõe é dar toda a
prioridade ao crescimento (como, é detalhe que pouco importa).
Tavares
Moreira
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