04 junho 2012

Vai um gin do Peter’s?

Em países tão distintos como os EUA ou a Bélgica têm sido ventiladas mensagens, através da publicidade, a alertar para as vantagens do trabalho de equipa que, bem sintonizado, permite atingir efeitos surpreendentes.

Sabemos quanto esta mensagem acaba por ser recorrente, ao longo da história, embora com tónicas distintas. A novidade, na nossa época, reside na relevância reconhecida ao grupo, quando antes se tendia a atribuir o mérito maior à chefia, considerada decisiva para a convocação individual e subsequente orquestração dos contributos pessoais. Seria, por isso, a grande força geradora de um colectivo devidamente articulado e capaz dos maiores feitos. Aliás, é dos talentos mais exaltados no Santo Condestável ou no grande Vice-Rei da Índia – D.Afonso de Albuquerque, ou no Príncipe Perfeito – D.João II, tudo figuras ímpares. Ninguém duvida de que fizeram a diferença.

Ainda assim, em quantos episódios do passado não ficou ofuscado o papel crucial dos chefiados? A Segunda Guerra, situada num passado mais recente e muitíssimo documentado, é pródiga em exemplos destes, logo a começar pela resistência intrépida do povo russo, assim como na combatividade dos japoneses, na eficiência bélica dos alemães, ou na coragem e no ânimo da Grã-Bretanha, de que Churchill e a Rainha Mãe(1) foram apenas as faces visíveis.


Aproximando-se da mentalidade actual, a Microsoft lançou um spot sugestivo, a mostrar enorme respeito pelos seus colaboradores e oferecendo-lhes um ambiente de fácil entendimento e complementariedade, numa ousada proposta de felicidade: «Happy is a finely tuned business». Sim, há um líder, sob a forma de maestro, porque tudo é musical e incrivelmente agradável. Mas cabe-lhe, acima de tudo, gerir os talentos insubstituíveis dos trabalhadores. Significativamente, são os utensílios do coffee-break os instrumentos da banda Microsoft, que se diverte num open space paradisíaco. Dão-nos a ideia de que profissionalismo e realização pessoal são duas faces da mesma moeda, muito para lá da mera satisfação do chefe. A empregada, que passa no corredor, confirma a qualidade de uma actuação maravilhosamente sincronizada. Percebe-se que todos saboreiam o gozo de funcionarem primorosamente, em conjunto:



Num sentido diverso, sem apelos indirectos à produtividade laboral (seja no mundo empresarial, seja para fins militares), um par de curta-metragens belgas pretende convencer os cidadãos a preferir os transportes públicos. A persuasão baseia-se nos benefícios do grupo, em detrimento de quem actua isoladamente, ainda que parta de uma situação de vantagem explícita. Uma reflexão muito útil para contrapor a onda de individualismo que grassa no ocidente rico. A expressividade e o humor destes desenhos animados falam por si, sob o slogan: «It’s smarter to travel in groups».

3 Trailers diferentes:



Curiosamente, nem sempre o que é smarter é o mais apetecível. Além disso, há fases e circunstâncias bem díspares, ao longo da vida, havendo uma hora para privilegiar o grupo, outra para seguir um trilho pessoal, a sós. Importa, assim, discernir os diferentes tempos e, na hora de sermos muitos, garantir a boa sincronia. Nada óbvio, embora o resultado parece compensar o esforço, sobretudo se for a opção que nos leva mais longe.
  
Maria Zarco
(a  preparar o próximo gin tónico, para daqui a 2 semanas)
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(1) Significativamente, Hitler considerava-a a mulher mais perigosa da Europa, pela sua imperturbável bravura nas visitas aos escombros deixados pelas bombas da Luftwaffe, no acompanhamento regular às vítimas da guerra, no apoio ao Primeiro-Ministro em todas as mensagens de ânimo dirigidas aos militares nas frentes de batalha, além da recusa liminar para deixar Londres, apesar dos ataques contínuos com as temíveis “bombas voadoras” (V- flying bombs) alemãs.

1 comentário:

Anónimo disse...

Que post mais criativo, combinando texto, imagem, humor, História, personalidades, desenhos animados, solidão, grupos, discernimento... well done, MZ. Bjs. pcp

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