Já este mês estive uns dias no Brasil, por razões
sobretudo profissionais a que, naturalmente, procurei sempre que possível
acrescentar outras mais turísticas e apelativas (o país irmão assim o exige!).
O propósito da viagem, analisar in loco possibilidades de estender ao Brasil
actividades industriais que já desenvolvemos aqui – internacionalizar, usando o
chavão – afigura-se complexo e arriscado, face à escala e dimensão do que temos
pela frente. E aliciante, pelas mesmas razões.
Retive desde logo a complexidade da organização do país
e das suas várias dimensões: federal, estadual (27 estados) e municipal (mais
de 5500 municípios), com alterações significativas das regras e leis, que
facilmente podem tramar o incauto. De realçar também a simpatia natural dos
brasileiros, por exemplo não há reunião que, na hora do rescaldo, não pareça
ter corrido bem. E ainda que o mau e o bom, mesmo o muito mau e o muito bom,
ali estão, lado a lado, bem à frente de quem quiser ver, coexistindo de forma
mais ou menos pacifica.
Visitei empresas altamente sofisticadas e fiquei com a sensação
de que pouco temos para lhes ensinar, em termos de ciência e tecnologia. No
entanto, sendo um país enorme e em fase de obra e grandes investimentos, com
estádios de desenvolvimento entre regiões muito diferenciados, as oportunidades
existem e poderão ser aproveitadas. Com um parceiro local, de preferência, é
para aí que apontamos a nossa mira!
Estive em Brasília, cidade “sem esquinas”, na expressão
bem observada de um amigo meu, em S.Paulo (cujo nome advém de a 1ª missa celebrada
no ermo local em meados do século XVI, pelos jesuítas Manuel da Nóbrega e
Anchieta, ter sido no dia da conversão do apóstolo ao cristianismo), em que
apesar da confusão e do caos, tudo em doses gigantes, se sente um forte apelo
urbano, subi pela rodovia dos bandeirantes até Campinas e Hortolândia (um nome
que só poderia ser brasileiro!). Apreciei e senti orgulho no muito que os
portugueses fizeram e deixaram neste grande país, e que os brasileiros no fundo
admiram e tributam, embora haja sentimentos contraditórios que são
compreensíveis.
De duas gerações de nativas de S. Paulo (paulistanas,
não confundir com paulistas, naturais do estado), escolhi uma música de cada,
na esperança de que gostem.
fq
fq
4 comentários:
Estive em Brasília há, talvez, 30 anos; é uma cidade sem esquinas, sem um gato vadio, sem um bêbado,sem um cão, sem...È uma cidade sem alma, feita a régua e esquadro para albergar funcionários e. para enriquecimento de alguns.
SdB(I)
Brasil é aquela base...
tudo é possível, tudo acontece e é por isso que esta possibilidade permanente e o mistério da imprevisibilidade reunem tantos consensos.
No entanto fq, nunca se esqueça que deve ser por isso que eles abraçam mas nunca fechem os braços (dito popular de JdB).
Não sei se a sua empresa vai avançar ou não para a internacionalização. Mas o seu relato é muito interessante, até porque se nota uma tentativa de ser imparcial e de ver o bom e o mau com objectividade. Para mim, há no Brasil, e nas Américas, uma sensação de espaço e de olhar para o futuro que eu acho do mais refrescante e estimulante que há. Até Brasília, permito-me discordar de si SdB(I), me parece ser uma cidade arrojada, traçada a esquadro, sim, mas a pensar na comodidade dos seus cidadãos. Tudo aqui é grande, amplo, arejado, as quadras (quarteirões) bem definidas e arranjadas. E os brasileiros, não fechando talvez muito os braços, são positivos, alegres, têm a alegria na sua cultura (está-lhes no ADN). Mil vezes a alegria e a positividade, peço desculpa se ofendo alguém, do que o peso da tristeza e do fado (na pior acepção da palavra) que nos caracterizam grosso modo. E que só ajudam a que não andemos para a frente. Enfim, não se pode generalizar, há bom e mau em todos os povos e todas as culturas. Mas gostei muito do seu relato, fq. Obrigada. pcp
Como editor e dono do estabelecimento poderia vir aqui e desempatar a ideia sobre Brasília, face às duas opiniões antagónicas. Não o farei, em nome da prudência.
Resta-me desejar a internacionalização da tua empresa, certo de que se ela não acontecer, face à tua competência, é porque o mundo está, de facto, doido.
Quanto às músicas: ouvi ambas. Da Rita Lee fiquei-me no lança perfume, da Maria Gadú só retinha o nome.
Abraço
O editor, etc e tal
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